Qual é a situação do trabalho e do trabalhador no ensinamento da Igreja, como plano de Deus? Poucos assuntos são tão complexos quanto esse. É a religião "ópio do povo"? Condena o ser humano ao trabalho, e o trabalhador à exploração? Ou, ao contrário, o liberta, o impele a libertar-se? Exalta o trabalho, ou então o maldiz, como um castigo?
Henri Rollet, presidente da FNAC é autor de excelente tese sobre a ação dos católicos na França, especializou-se no estudo das relações entre a Igreja e o mundo do trabalho: assim, traz preciosas luzes a todas essas questões.
A Igreja, herdeira de uma mensagem que, no mundo greco-romano, foi revolucionária, considera que o trabalho pode salvar o homem. Essa mensagem, ela a viveu historicamente há dois mil anos; conhece-se seu papel na libertação dos escravos, na organização do mundo do trabalho na Idade Média e nos séculos seguintes; conhece-se menos - e jamais poderá dizer muito - seu papel na era da máquina, isto é, nos séculos XIX e XX. Sabe-se que Leão XIII reconheceu aos trabalhadores o direito de sindicalização, que lhes havia sido negado pela Revolução Francesa? Que é nas encíclicas papais que se encontram as ideias que levaram à Segurança Social? Numa época em que se sabe que as realizações práticas não são mais que o resultado quase fatal de um longo preparo da opinião, avaliar-se-á bem a força que representa o ensinamento do Papa, acatado por milhões de católicos espalhados por toda a Terra?
A Igreja, tanto quanto todos, está preocupada com os problemas do trabalho; mas, no trabalho, olha sobretudo pelos trabalhadores que tem a seu cargo, e por sua voz, praticamente, é a única que poderá salvaguardar, num mundo deslumbrado por suas realizações, o sentido da dignidade do homem e da sua vocação sobrenatural.
Religião e Espiritualidade / Sociologia