Uma bomba que mata apenas adultos é detonada e agora o mundo está entregue às crianças. Nesta estranha distopia criada por Carlos Trillo e Horacio Altuna, acompanhamos a história de um grupo de jovens lutando não apenas para sobreviver, mas também para compreender o mundo sem ninguém para guiá-los.
Lançada originalmente em capítulos entre junho de 1982 e junho de 1983 na revista espanhola 1984, O Último Recreio nos coloca questões assustadoramente atuais. Guerra, doença, desamparo. A genialidade de Trillo e o traço cruel de Altuna nos dá a universalidade e atemporalidade destas questões e muitas outras nesta obra obrigatória para o leitor de quadrinhos.
Os anos de 1970 e 80 foram um período crítico para o mercado de quadrinhos na Argentina, que experimentava uma fuga de artistas para a Europa e uma invasão de publicações estrangeiras que minaram parte da produção local. Não à toa, O Último Recreio é um dos vários trabalhos de autores argentinos que foram publicados originalmente na Espanha.
À época, a guerra fria atravessava suas piores fases e a ameaça de uma guerra total era bem concreta. A nível local, diferentes períodos ditatoriais na Argentina aterrorizavam o país. Culturalmente, a revolução sexual já era uma realidade na mídia e no cotidiano, e o vírus HIV era recém descoberto.
Sem soar alegórico, O Último Recreio capta todas essas influências de maneira extremamente sensível, criando uma distopia assustadoramente real.
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