O Último Samurai

O Último Samurai Helen DeWitt


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O Último Samurai





Ludovico – ou Ludo, como sua mãe, Sybilla, o chama – começou a aprender as primeiras letras e as primeiras operações matemáticas com dois anos. Aos quatro, Sybilla começou a ensinar-lhe o grego, que se seguiu ao italiano e ao francês. Aos seis anos, já dominava mais de 200 caracteres japoneses e, aos 11, fez a pergunta que o ligaria, a despeito de sua educação precoce e sua espantosa erudição, aos milhões de crianças nascidas de mãe solteira: "Quem é meu pai?"



Esse é o grande trunfo de O último samurai, de Helen DeWitt. Num estilo que muitas vezes, à primeira vista, pode parecer confuso, mas que traduz, de maneira brilhante, a efervescência das mentes de Sybilla e de Ludo, Helen DeWitt descreve o caminho que o menino faz para encontrar o pai.



Sybilla é uma mulher que nasceu no meio-oeste americano e trocou o próspero negócio paterno de motéis pelos quartos abafados de Oxford, em um esforço para escapar à tradição familiar de postergar os sonhos. Uma vez em Oxford, consciente de sua repulsa à hiperespecialização que a esperava ao final de sua carreira acadêmica, e também por sua incapacidade para ter um emprego convencional, começa a trabalhar numa editora digitando velhas publicações para uma enciclopédia inglesa. Até que uma noite, e somente uma noite, cai na cama de um consagrado escritor de pouco caráter. Desse escorregão nasce Ludo. O pai desconhece sua existência. E Sybilla quer que Ludo também não saiba quem é ele. À falta de uma figura paterna, Sybilla assiste ininterruptamente a Os sete samurais, filme de Akira Kurosawa, com a idéia um tanto estranha de dar ao menino não uma, mas quinze figuras masculinas (os sete personagens, os atores que os interpretam, e mais o diretor) para forjar sua personalidade.



Ludo – que na maternidade fora registrado como David ou Stephen, e Sybilla jamais tivera a curiosidade de ver na certidão de nascimento qual nome a enfermeira escolhera por ela – anda de trem durante todo o inverno para aproveitar o aquecimento que a mãe não pode pagar e aprende línguas mortas e matemática avançada nos dias de verão. Aos 11 anos, o menino resolve pôr em prática o que o filme lhe ensina. Como o personagem Rikichi, que sai a recrutar ronins – samurais sem amo – para defender sua aldeia, Ludo decide botar toda a sua capacidade cerebral a serviço do único desafio verdadeiro que tem na vida: encontrar seu pai.



Helen DeWitt constrói com talento a história de amor do filho pela mãe excêntrica e pelo pai que ele imagina ser um jornalista intrépido, um desbravador de culturas, um astrônomo ganhador do Prêmio Nobel. "Meu pai talvez gostasse da oportunidade de passar algum tempo com o filho que nunca soube ter tido. Poderíamos ir de canoa até a nascente do Amazonas [...] ou morar seis meses com os massais (meu massai é bastante bom). [...] Se pelo menos ela me dissesse quem ele é poderia parar de desperdiçar meu tempo em coisas que podem simplesmente ter serventia numa hora qualquer e me concentrar naquelas que realmente preciso saber. Tive que aprender cinco grandes línguas de comércio e oito línguas nômades por via das dúvidas. É uma loucura.").



A busca ao pai que ignora sua existência o leva a encontros inesperados, a novos estudos, a indagações que, pela metade do livro, o leitor identificará como as de um menino solitário e assustado. No meio de todo o saber que jorra das páginas de O último samurai despe-se a história de uma mãe que fugiu para não assumir a responsabilidade de um relacionamento, e de um menino que deseja ardentemente ser como os outros meninos (ou como ele imagina que sejam os outros meninos). Porque Ludo não é um gênio, não é excêntrico, não é um ser à parte; ele é apenas um garoto que, negados os blocos de armar e os autoramas, entreteu-se com caracteres japoneses e a Odisséia em grego. É com seus brinquedos que ele se arma, à guisa de defesa, quando bate à porta de seu suposto pai; é com essas armas que ele tenta chegar afinal ao seu objetivo: dizer a um completo desconhecido: "Olá, eu sou seu filho"

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Um livro inusitado.
on 11/3/10


Quando comprei esse livro tinha uma expectativa diferente. Por isso fiquei inicialmente desconfortável com o estilo adotado pela autora, que é muito experimental e moderno. Depois de uma pausa para me recuperar, voltei a lê-lo, dessa vez com as expectativas certas. Devo admitir que por toda a extensão do livro (o que não é pouca coisa) nunca me senti muito à vontade com o estilo da escrita, mas de uma forma curiosa fui fisgado, lendo dezenas [por vezes até centenas] de páginas por dia.... leia mais

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Sylvia
cadastrou em:
15/04/2009 19:12:53

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