Era uma vez. É próprio o caso desse volume. Era uma vez a caneta, a máquina de escrever, o lápis, as folhas de rascunhos suados e caóticos. ‘Esta obra foi integralmente escrita em um telefone celular’, assim nos avisa o autor destas páginas. Quem é este moderno escritor tecnológico? Porém, em abertura ao texto, cita com elegância o profeta Amos e o poeta francês Charles Péguy. Signo de um leitor cuidadoso e especial, um leitor ‘que nunca pensou em escrever’. É a sina de muitos. Alexandre Archanjo define a origem desse ‘conato’, desse esforço enérgico para entregar-se à página, como ‘o vazio da palavra’. A palavra está vazia. A filosofia oriental nos ensinou que o vazio não é negatividade, não é ‘zero’. Pelo contrário, é produtivo: é aquilo que possibilita a junção entre Ser e Nada. Deste modo, algo pode realmente se transformar em texto, algo que sai de dentro, ‘violento e doce’. Neste diário nos percebemos companheiros de viagem de Alexandre Archanjo. Não é necessário compreender tudo ou acatar cada proposta. Assim é toda viagem. Entre reflexões líricas e declarações de amor para o próprio destino agridoce, o escritor de celular nos confessa que a vida prega sempre surpresa em nós: ‘de coisas que não esperamos nascem histórias longas e bonitas’. No Tempo, o vazio da palavra se preenche e se esvazia constantemente, à procura de novos leitores e novas experiências.
Literatura Brasileira