Ombros Altos

OS LABIRINTOS DO AMOR

Flávio Pinheiro



Carlos Sussekind de Mendonça Filho, que fez 70 anos em setembro, escreveu "Ombros Altos" há 43 anos. Os ombros são de Paula, paixão que Doutor (o narrador) divide com Barão (também chamado de Barão Frankenstein), sob o olhar conselheiro e intrigante de Olga, amiga de ambos, e crítico e casual de Galocha.



A pequena novela de 80 e poucas páginas jamais ficará pronta, tem-se esta impressão. Sussekind custeou do bolso a primeira edição da qual ainda restam vestígios esparsos em sebos. Em 1985 a finada editora Taurus/Timbre editou uma segunda edição. Em 1996 Jorge Viveiros de Castro da 7Letras pôs na praça a terceira com duas impressões de tiragens de 250 exemplares. Agora a 7Letras imprimiu mais 600 cópias de uma quarta edição.



Em todas há adições. Implantes que Sussekind vai fazendo. Comentários do Barão. Fortuna crítica do enredo feita por Galocha, que aproveita para contar a história de um amor sem futuro por uma mulher casada. É de Galocha, "grande farsante", a teoria que percorre todo o livro: "No verdadeiro amor não se fala dela com ninguém".



O livro todo é feito de hesitações, dissimulações, corte pudica, um jogo de intenções fugidias, negaceios e raríssimas declarações escancaradas. Os leitores entram num private joke de uma história de amor e ficam seduzidos pelo complacente auto-engano de que se alimenta o Doutor.



"Ombros Altos" é um punhado de tijolos perto da densa arquitetura de "Armadilha para Lamartine", obra-prima de Carlos Sussekind, um dos romances mais interessantes e originais da moderna literatura brasileira. Em sua doída tessitura, "Armadilha" mistura memória e realidade, normalidade e patologia em deliberada e engenhosa confusão.

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http://revistacult.uol.com.br/home/2014/03/as-loucuras-de-carlos-sussekind/


A coleção Rocinante da 7Letras foi iniciada em 2003, seguindo a proposta da revista Ficções: publicar o melhor da prosa ficcional brasileira, juntando novos contistas e romancistas a nomes mais consagrados. Quatro anos e cinqüenta títulos depois, a “Rocinante” pode ser considerada bem-sucedida em sua quixotesca empreitada. Teve diversas resenhas positivas na imprensa; emplacou um autor estreante entre os três melhores livros de contos de 2006 (“A hora extrema”, de Mario Araújo, finalista do Prêmio Jabuti); revelou três escritoras estreantes (Carola Saavedra, Ana Paula Maia e Verônica Stigger) que foram contratadas por grandes editoras e hoje têm seu trabalho reconhecido nacionalmente; reeditou grande parte da obra de Sonia Coutinho (escritora consagrada com participação em diversas antologias no Brasil e no exterior), e ainda apresentou traduções de autores clássicos como Rainer Maria Rilke (“Histórias do Bom Deus”), F. W. Goethe (“Novela”) e A. Tchekov (“O bispo”). Em 2007, a Rocinante moderniza seu projeto gráfico e se apresenta de cara nova, mantendo sempre a qualidade que já é sua marca registrada entre os leitores.