Há demônios escondidos por toda parte. Alguns se encontram nos pesadelos, outros enfurnados no armário velho dentro do quarto. As pessoas conheciam formas para dissuadi-los ou até mantê-los adormecidos, mas sempre prontas para libertá-los.
Eric sabia exatamente onde encontrá-los. O terceiro ano do ensino médio em nada se comparava com a vida em família que o amedrontava — o pai, um estivador bêbado que adorava sair distribuindo socos na esposa submissa; a mãe, uma covarde dona-de-casa, que preferia a permanência do filho durante o show de pancadaria, com o intuito egoísta de tê-lo por perto para curar as suas feridas mal cicatrizadas. Todavia, o entretenimento massacrante pouco a pouco se deteriorava. Não dava pra continuar seguindo aquela programação e não fazer alguma coisa. Aos 17 anos, ele precisava tomar a mais difícil dentre todas as suas decisões: largar a mãe junto de seu predador, ou levá-la para longe da violência constante.
Se fosse simples, o garoto já teria ido embora há muitos anos. Sair de casa o afastaria dos melhores amigos — Carla, uma menina que viu a vida mudar ao perder o irmão quando ainda era pequena; e Pedro, filho único de um lar disfuncional, marcado pela morte da mãe, portadora do Transtorno Bipolar, com um pai que preferiu abandonar o filho logo que ficou viúvo e uma tia que se esforçava para corrigir a ausência do cunhado que os largou durante o luto.
O problema não é descobrir onde os demônios habitam. Todos sabem que os homens os resguardam. O alarmante é não saber quando as bestas estarão prestes a despertar e como fazer para combatê-las.
Jovem adulto / Romance