Oppenheimer (Cientistas #23)

Tal como Ícaro na mitologia grega, J. Robert Oppenheimer ambicionava chegar ao topo, aos cumes intelectuais que jamais alguém alcançara. Impulsionado pela sua genialidade e determinação, mas também por uma imprudência juvenil, Oppenheimer construiu asas feitas de fórmulas, equações e ousadas teorias para se elevar aos céus do conhecimento. Na sua ascensão científica, não só se aproximou do Sol em termos metafóricos, mas também tocou no núcleo de um poder primordial.

A fissão nuclear, que ajudou a transformar numa arma, representa uma libertação de energia massiva, similar em magnitude, mas diferente na natureza, das reacções de fusão que ocorrem no Sol e noutras estrelas. Apesar disso, os dois processos, em mãos humanas, possuem um potencial devastador se não forem manuseados com cuidado. Foi assim que, ao penetrar nos segredos mais insondáveis do átomo, as asas de Oppenheimer, tal como as Ícaro, acabaram por derreter perante o alcance da sua descoberta. A sua queda foi retumbante. Abrira uma porta que, para muitos, deveria ter sido sempre mantida fechada. As consequências da bomba atómica, como a destruição de Hiroxima e Nagasáqui, foram o duro regresso à realidade que frequentemente se segue à desobediência de certos limites morais na busca do conhecimento. Tal como Ícaro, depois de cair até às profundezas do abismo do descrédito, Oppenheimer legou ao mundo vislumbres do que é possível e visões do que o intelecto humano consegue conceber, se tiver audácia para desafiar os limites. Talvez mais do que ninguém na história da ciência, Oppenheimer incendiou o fogo da imaginação que ainda vive em nós como uma chama que se recusa a extinguir, inspirando-nos, atrevendo-nos a sonhar e a chegar mais alto.

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