Os donos do poder - volume I

Os donos do poder - volume I Raymundo Faoro


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Os donos do poder - volume I


Formação do patronato político brasileiro




Os Donos do Poder integra um seleto grupo de obras fundamentais voltadas para a compreensão do Brasil. Jurista de formação, o autor combina com maestria os instrumentos da sociologia, do direito, da história e da ciência política para elaborar um estudo amplo, que vai desde a colônia até a revolução de 1930. O clientelismo, as dificuldades em separar o patrimônio público dos bens privados, os obstáculos para a construção de um Estado Moderno, baseado nos preceitos legais, são algumas características da realidade que Raymundo Faoro procura analisar, em busca de suas origens e especificidades.

Arriscando a sua leitura nesse sentido, ao pensar em uma formação da classe política dominante, Faoro projeta sobretudo uma genealogia dos donos do poder, visto que será sempre a continuidade, o vitalício, o hereditário, a tradição, todos esses elementos posteriores à própria história narrada, as linhas por meio das quais ele solicitará o narrar historiográfico. Trata-se de uma história épica da formação do Brasil sob o ângulo das suas elites. Ainda assim, a matéria política do seu livro parece conter o resgate ou a reclamação de outra história nacional para o Brasil. Portanto, se alguma matéria política pode ser encontrada neste livro, uma matéria que não é ofertada ao leitor por pura curiosidade do pesquisador ou diletantismo intelectual, ela parece estar também no enigma histórico, no enlace entre um passado político e o seu reflexo em um presente nacional permanentemente prisioneiro da sua história.

Partindo desse ponto, alguns temas da sociologia e da política brasileira serão pensados tendo como espectro essa genealogia ou formação do patronato no Brasil. Um deles será a relação público/privado, relação que diz muito a respeito da composição patrimonial-burocrática de Portugal. A tênue separação entre o público e o privado, herdada da tradição monárquica portuguesa, marca a política brasileira desde o tempo em que era colônia, persistindo o seu traçado mesmo quando a família real retorna para Portugal, já no século XIX. A obra da Independência de 1822, na perspectiva de Faoro, fora arrasada por essa metafísica do poder central, que controla e conspira contra os sucessos de uma política liberal no Brasil.

Por isso, numa leitura atenta de Os Donos do Poder, pensar a história do Brasil será repensar essa metafísica, visitar a antiga casa portuguesa, ao encontrar no seu mobiliário tradicional peças de uma suposta arquitetura política atual. Conforme foi proposto inicialmente como tema deste artigo, pode-se ler o livro de Faoro como um importante marco de confecção e criação de estilos na nossa historiografia, importando essa escrita da história na mesma medida em que interessa a matéria narrada, pois a história do Brasil, travada nos limites da sua fundação, “sombra coada entre sombras, ser e não ser, ir e não ir, a indefinição das formas e da vontade criadora” (FAORO: 271), parece reclamar algum intérprete, por fim, que não a aguardaria lá embaixo subterrânea às suas pressões. Este pode ter sido o principal mérito de Os donos do poder: acordar a história brasileira do seu sono secular, nostálgico e, muitas vezes, sem o saber, elogioso, da tradição portuguesa. Teríamos cumprido essa missão lançada por Faoro? É a partir dessa pergunta que apresento a atualidade ou não dos clássicos da interpretação nacional. (por Marcelo Diana)

História do Brasil / Política / Sociologia

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on 20/5/11


Quatro anos de serviço público, e eu só comecei a entender de fato o que faço depois de ler “Os donos do poder” (Folha, 2000). Raymundo Faoro foi buscar na Idade Média, praticamente na fundação do reino português, a origem do Estado patrimonialista e do estamento burocrático. Lá estava o João das Regras (esse nome é uma piada pronta) a encontrar o argumento jurídico para o país ser propriedade do rei e fundar uma casta de rábulas. A associação entre os dois surfa tranquilamente sobre a... leia mais

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