Entre o chão da sanidade e o céu da loucura delineia-se um arco-íris que tem entre cinco e sete cores, todas elas improváveis. Quando se está num dos extremos do arco, parece que nada há o que temer. Difícil e quase insuportável, porém, é ver-se exatamente no meio, na fronteira, na fina risca que delimita a normalidade e a demência. Pois é nesta situação angustiante que se encontra o personagem desta novela, a ponto de achar que ele mesmo é o autor de um diário escrito por alguém que já se matou ou pensar que é seu próprio corpo sem vida o que foi encontrado nos telhados da Tamarineira, nome tradicional do célebre hospital psiquiátrico do Recife, que já nos remete a outro livro onde as personagens se movimentam nesse pântano de solidão e insanidade: A Rainha dos Cárceres da Grécia, de Osman Lins. Aliás, não é só a livre que a novela de Raimundo Carrero nos remete. O texto é todo semeado de citações, não apenas literárias, mas também musicais e cinematográficas, embora nem tudo aqui seja livro, música e filme de verdade. Verdade? Mas que palavra é esta que muitos já consideram o antônimo de Literatura.
Contos / Literatura Brasileira