Os infames da História

Os infames da História Lilia Ferreira Lobo


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Os infames da História


Pobres, escravos e deficientes no Brasil




“A genealogia é cinza; ela é meticulosa e pacientemente documentária. Ela trabalha com pergaminhos embaralhados, riscados, várias vezes reescritos” (Foucault). No texto “Nietzsche, a genealogia e a história” (em Microfísica do poder), o filósofo francês fala de seu método histórico-genealógico, quando adverte que, “para a genealogia, [há] um indispensável demorar-se; [há de se] marcar a singularidade dos acontecimentos […]; espreitá-los lá onde menos se os esperava e naquilo que é tido como não possuindo história”. Segundo ele, “a genealogia exige, portanto, a minúcia do saber, um grande número de materiais acumulados, exige paciência”. Lilia Ferreira Lobo, amiga, companheira, irmã, psicóloga, historiadora e genealogista, neste seu importante e belíssimo livro, apresenta de forma singular e inventiva uma genealogia da instituição “deficiência” no Brasil, partindo da pobreza e da escravidão. Trabalhando paciente e meticulosamente, ela nos faz conhecer “existências infames”, aquelas vidas “obscuras como milhões de outras que desapareceram e desaparecerão no tempo sem deixar rastro”. Lilia busca e ilumina algumas dessas vidas ao pesquisar acontecimentos que têm como protagonistas esses “monstros e degenerados”, ao nos trazer os tribunais da Inquisição e da eugenia, ao nos impactar com as narrativas desses corpos cativos e assujeitados. Viajamos com ela pela história do Brasil, desde o descobrimento, passando pela Colônia, pelo Império e pela República. Não como uma história evolutiva ou como uma pesquisa das origens em que há a preocupação de desvelar uma identidade primeira na qual estaria o lugar da verdade. De outro modo, a autora usa a história para conjurar a quimera da origem e afirmar as dispersões, os acidentes, os pequenos desvios e rupturas, a heterogeneidade, a entrada em cena das forças, o salto pelo qual elas passam dos bastidores para o teatro, cada uma com seu vigor e sua juventude. Aqui há uma história genealógica, não teleológica ou racionalista, em que os acontecimentos singulares no que eles têm de “únicos e agudos” se afirmam e nos invadem — acontecimentos como “o índio, o monstro canibal”, “o idiota, o monstro completo”, “os monstros das feiras, os infames da ciência” e “o operário higienizado”, entre outros. Esta obra é indispensável para qualquer profissional — não somente psicólogos — que queira pensar a produção dos pobres, escravos e deficientes no Brasil. Lilia FerreiraLobo, diferentemente dos historiadores oficiais, não “teme um saber perspectivo”; ela afirma em sua meticulosa pesquisa o lugar de onde olha, o momento em que está, o partido que toma — “o incontrolável de sua paixão”.

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