Os momentos

Os momentos Eunice Arruda


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Os momentos





Eunice é da geração de Orides Fontella e cultua a concisão, como a conterrânea.Tem mais de 15 livros publicados e vários poemas em antologias no Uruguai, Colômbia, França e Estados Unidos. Os títulos dos poemas são secos, em geral uma palavra só, certeira. Algumas vezes, sua voz lembra a de Cecília Meireles, mas ela pretende ser mais sintética, menos sinestésica, fugindo de qualquer derramamento sentimental.
Em 2012, publicou "Poesia Reunida", pela Editora Pantemporâneo. Pode-se ver, nos 50 anos de poesia, uma depuração o sutil. A escolha pela concisão no dizer pode levar a uma objetividade demasiada. Essa objetividade, com o passar do tempo, foi cedendo a uma suavidade que não se associa a uma dicção que pode ser tomada como feminina, mas a um dominio de linguagem, que torna o discurso mais fluido.
Segundo o crítico Álvaro Alves de Faria (1942), "Eunice prefere ver sua poesia inteira, com poemas que retratam a perplexidade de uma maneira existencial e tão íntima como o espelho do quarto, onde ela se olha como mulher e poeta e se deixa levar pelo que ainda existe de belo num mundo completamente destruído".
Eunice publicou também haicais ( "Há estações"). Fazia parte do Grêmio de Haicai Ipê, fundado por Masuda Goga.

PROPÓSITO
Viver pouco mas
vive muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a alegria
ou angústia - mas ser
Nunca morrer
enquanto viver

ESTUDO
Cabe-me assistir
tua semimorte
sabendo ser eu a que não quis salvar
Quem vai sofrer?
A noite diz
que não quero amanhecer
Reflexões são lágrimas
de quem não quer chorar
O pranto mudo é nulo
só eu devo adivinhar
Mata-me pois tua
semimorte
eu sou intensa
e afeita
E cabe-me também a culpa de compreender-se.

(É TEMPO DE NOITE, 1960)

UM DIA DEUS
Um dia Deus
pedirá aos
poeta
Que levantem
E andem
A dar notícias
como jornais
a espalhar palavras
pão
Eles
sairão do
poço
- fundo cavado -
Mas
se afastarão
Inventaram
a própria ressureição
(DEBAIXO DO SOL , 2010)

INCIDENTE

Um vaso se quebrou
no brilho da
festa

Choro
descendo as escadas
sem jamais ter encontrado na porta
uma possibilidade de
saída

GABRIEL

Cuidando da imortalidade
um poeta esquece a
vida

Come o pão
amanhã

Cerzindo as roupas claras
se veste de luto
pela casa
pobre cuidando: um poeta
De sonhos é que é
corrompido
um dia será lido
(do livro "Gabriel:", Massao Ohno Editor, 1990 - poema musicado pelo maestro A. Theodoro Nogueira)
Verão. Meio-dia
Na sombra de uma nuvem
o boi cochila

Poemas, poesias

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Carla Porto
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22/03/2017 14:12:03

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