Os Pedros estão todos aí, na capa do livro para, você conhecê-los » Já deu para sacar: o mais popular da escola, alto, forte e sorridente, é o João Pedro, daquela turma que não se mistura e é a última coca-cola do deserto. Acanhado atrás dos óculos, sentado em seu canto,
José Pedro que passa metade do recreio na bibilioteca e
é um verdadeiro "nerd", fissurado em internet. Mais alguém?
E os Pedros tão diferentes não sabem
que, no fundo, são muito parecidos. Não sabem ainda... Enquanto não aparece no pedaço a Mariana e todas as confusões começarem a rolar. Justo porque os dois
cismaram de tirar uma parada com a menina, isto é,
estão gostando dela e vamos ver quem é que conseguirá chamar mais a sua atenção. Cada Pedro joga com
as armas que tem: altas festas versus notas altas.
Sandra Pina retrata o cotidiano de adolescentes,
as regras das tribos, as idas e vindas pelo colégio, escolhendo um ponto de vista privilegiado: um narrador instalado dentro da história, intradiegético, contando
muita coisa de que não tomou parte, heterodiegético, segundo as classificações de Gerárd Genette.
No entanto, sua presença é clara, desde a primeira linha
do texto, ao referir-se ao pai que sempre pergunta
"E aí, como vão as coisas na escola?", eu respondo:
"Tá tudo indo, pai. Normal."
Mas é exatamente essa normalidade que será posta
sob desconfiança: por que as diferenças? Na trama,
João Pedro e José Pedro deixarão, de lado,
a rixa pelo coração de Mariana e compartilharão
a mesma tristeza pela separação dos pais.