Oswald ponta de lança

Oswald ponta de lança Éder Silveira


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Oswald ponta de lança


e outros ensaios




É com grande prazer que faço a apresentação deste Oswaldo Ponta de Lança e outros ensaios de Eder Silveira, amigo e colega de profissão, com quem venho compartilhando inquietações intelectuais e políticas relativas aos arranjos mundanos – multiformes, caprichosos e cheios de surpresa – que caracterizam o passado e o presente da nossa sociedade.
Nessa troca desigual, este livro vem acrescentar outros tantos dividendos que eu e demais leitores iremos capitalizar na forma de um entendimento mais vasto sobre as lides intelectuais que conformaram o modernismo à brasileira.
Para adentrar na trama modernista, a estratégia do autor foi organizar, através da sequência dos ensaios e conferências, aqui reunidos, um itinerário não linear de problemas onde se evidencia o engajamento de um conjunto heterogêneo de intelectuais e artistas brasileiros que, desde princípios do século XX, passou a conjugar um ideal de renovação estética e compromisso político de viés nacionalista. Na base da solidariedade que agregava o picolo mondo dos intelectuais e artistas modernistas, Eder quis destacar as ambiguidades e indefinições, os conflitos e competições que redesenharam incessantemente os contornos deste movimento.
Como é sabido, o modernismo, tomado como um conjunto de ideias e atitudes estéticas que estabeleceu fortes conexões entre arte e política foi, não obstante, profundamente heterogêneo. Aqui, amizades, simpatias, rivalidades e ciúmes que animavam as várias controvérsias relativas às convenções, técnicas e temas artísticos e literários, são pinçados e articulados ao lugar social de reconhecidos intelectuais e artistas – produtores de bens simbólicos - permitindo que nosso autor dialogue com a ampla literatura crítica, a respeito das fronteiras e temas que tradicionalmente são imputados ao campo ideológico do modernismo.
Os episódios e personagens que escolheu discutir, servem como janelas que permitem contemplar as redes de sociabilidade por onde transitavam nossos modernistas – salões, cafés, casas editoras, revistas, manifestos, correspondências, garçonnières – bem como os temas, valores estéticos e ideologias políticas que alinhavam e desalinhavam esses intelectuais.
Quem conhece o autor não se espanta com o modo desassombrado com o qual ele esgrima com tão variado leque de temas relativos às pugnas de um movimento que tão logo se afastou de seu marco fundador e normativo – a semana de 1922 – cindiu-se ao sabor dos ventos que sopravam da política. Não bastassem os alinhamentos distintos de Oswald de Andrade e Mario de Andrade na política paulista dos anos 1920, já na década de 1930, inaugurada pelo Revolução varguista, as clivagens ideológicas vão estimular o debate cultural gerando desavenças e rixas entre muitos dos integrantes dessa intelectualidade. No período entre guerras, os modernistas flertavam ou combatiam o integralismo, o Partido Comunista, o catolicismo autoritário e o ideário liberal reformado. Tudo isso a reforçar as inflexões na sintaxe modernista, suscitando tensões entre os defensores dos temas e formas nativas e aqueles mais próximos ao experimentalismo das vanguardas europeias; entre os adeptos das artes figurativas e aqueles que, nos anos 1940, aplaudiam a entrada das artes abstratas; os que valorizavam a cultura popular e o folclore, articulando uma concepção pedagógica da arte, em oposição à virtuose.
O primeiro ensaio, centrado na “cruzada de Monteiro Lobato” já delineia o projeto de um personagem que, sem se identificar com as ideias modernistas, e assumindo-se herdeiro do legado cientificista que tanto agitou o mundo político no fim do Império, teve um élan igualmente renovador nas artes, com sua caneta apontada contra os bacharéis e beletristas que, desprezando os estudo da raça e do meio, imaginavam índios nobilíssimos em seus gabinetes. Como divulgador do movimento eugenista, com sua fé na ciência em prol da salvação nacional, Lobato é analisado a partir da metamorfose do Jeca, cuja apatia é deslocada da condição inata que o condena como degenerado, para outra, transitória, posto que remediável. Este ensaio serve como antessala para a discussão do affair Anita Malfatti que pôs Oswald de Andrade no polo oposto a Monteiro Lobato, na apreciação crítica da pintura de Anita. No entanto, o que Eder Silveira pretende aqui é mostrar, no sentido oposto da avaliação dos historiadores, os pontos de convergência entre ambos os escritores no que se refere ao ideal de uma arte brasileira.
E paro por aqui, esperando que esta apresentação, algo insossa, não comprometa o apetite de quem irá se deleitar com as iguarias aqui servidas com a prosa clara, concisa e temperada, pelo meu amigo gourmet.

Flávio Coelho Edler
Historiador, Doutor em Saúde Coletiva (UERJ) e professor do PPGHCS da COC-Fiocruz

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Roberto Schmitt-Prym
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11/10/2016 21:12:42

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