Raras foram as analíticas político-poéticas que aproximaram o campo da volumosa literatura produzida por afro-brasileiros e afro-estadunidenses, o que resulta em um enorme vazio nesta matéria. Contudo, esse vazio pode terminar em breve, com a obra de Gabriel Chagas, Pérolas negras na periferia, sua premiada dissertação de mestrado agora publicada em livro. Com esse trabalho, o vazio começa a ser preenchido por uma narrativa sobre a estética da vida na diáspora atlântica negra pelo olhar das experiências femininas e suas corporeidades em perspectiva comparada. Gabriel revela as subjetividades enegrecidas de Lima Barreto e Langston Hughes, operando em sincronicidades na produção da presença de suas personagens femininas e eivadas de forte conversa com as mais sólidas abordagens decoloniais e contracoloniais, que se convertem em chaves da alma de ambos os autores. Subsumidas nas suas existências cotidianas pelo modus operandi do racismo e das sombras do imaginário colonial, as personagens de Lima e Hughes evocam a atualidade da consciência da dor e a relevância da negritude como ferramentas na luta contra o apartheid global em proliferação por todo continente americano. Leitura imprescindível para esta era de interseccionalidades ambientais, regionais, afetivas, etárias, de gênero, raça e classe.
Julio Cesar de Tavares - Professor Titular de Antropologia da UFF
Não-ficção