Com a publicação de Antes do Baile Verde, em 1970, Lygia Fagundes Telles tornou-se um dos contistas mais expressivos do século vinte no Brasil. Em seus contos lêem-se as transformações dos anos cinqüenta e mais especificamente, no período da ditadura militar. Coincidindo com o avanço da Psicanálise nos centros urbanos, sua obra tematiza as angústias, os desencontros, as misérias humanas, com ênfase à violência nas relações sociais mais próximas: amorosas e familiares. A qualidade literária desses contos, em imagens visuais, sugere que a literatura é também uma forma de incursão nas almas e, catarticamente um lenitivo para os conflitos individuais.
É sobre desajustes e desencontros que Lygia constrói seu universo ficcional. Seus contos, porém, não se restringem a documentar vidas privadas da burguesia urbana. Trabalhando as emoções com a força da palavra, ela sofisticou a forma para criar um mundo em que os limites entre o vivido e o imaginado se confundem e tocam as dimensões do onírico. Escolher alguns dentre tantos contos perfeitos é uma forma de homenagear a quem alimentou, através da palavra escrita, os anseios, as expectativas e as fantasias de, no mínimo três gerações de leitores.