Menção Honrosa, no VIII Prêmio Hermilo Borba Filho, a matéria-prima da obra Ponteiros de Guerra, escancarada desde o título, é o embate entre tempo e humanidade, esta encarnada em seu componente basilar: a humanidade.
Boa parte de seu conteúdo tem gênese sob o contexto da pandemia do Corona Vírus, período sobre o qual tantas e tantos se desgarraram das horas e calendários. Hoje, num mundo de rostos finalmente descobertos, este ontem segue em latejo sobre nossa forma de percepção do mover dos ponteiros. E esse é o conteúdo subliminar da poética de Fernanda Limão. O tempo segue, arredio e inclemente.
Herdeira de uma profunda vivência com as poéticas populares do agreste pernambucano, traz novo fôlego a uma crescente e, a seu modo, bastante consolidada cena literária de Garanhuns, com o refinamento de um pulso poético preciso, contundente e incisivo. Perfeccionista artesã, poucas palavras, e sempre imensas palavras, bastam para a poeta delinear assombros universais espalhados na cadência de um insistente e infatigável ponteiro.
Tomando por base a constância temática da obra, a OIA Editora lançou-se num ousado projeto gráfico, enriquecido pelas fotografias de Nivaldo Carvalho e Karolyne Albuquerque, repensando os limites sobre o objeto-livro, de maneira que toda e qualquer movimentação sobre a obra nos recorde a tônica temática de Fernanda Limão: o Tempo. Há por onde, ou como, nos libertarmos desta pretensa divindade sempre a achatar-nos individualidades?
Dividido em três partes – Guerrilha das Horas, Tempo de Guerra, Premissas das Horas Asas –, a poeta recorta a fino fio um longo traçado sobre resistência em tempos de caos, recusando-se à mudez em dias severos, afinal, nos dizeres da mesma, “há quem não / escute mas o / silêncio é nômade”.
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