A infância tem sido o objeto de constantes preocupações no cenário político e acadêmico contemporâneos, ao ponto de que são muitas as vozes que proclamam o século XX como o “século da criança”, trazendo a consagração da infância como objeto particular das investigações científicas e das propostas políticas. A julgar pelo modo como se inicia, o século XXI parece que será marcado como o “século da criança patologizada”. Tempos de uma concretização não literária do “menino maluquinho”. Os adultos sempre trataram a infância adjetivamente: mal-educado, bem- educado, interessado, desinteressado, inteligente e atento, desatento e fraco. Sinais do estrutural desejo de endireitá-los para que se tornem “bons adultos”. Durante décadas a esperança deste endireitamento foi colocada na educação, daí os signos desta adjetivação serem sempre morais. As principais instituições que se ocupam da criança, família, escola e instituições afins, se veem assoladas, hoje em dia, por uma discursividade que propõe outra adjetivação, já não mais moral, mas médica: transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de oposição, autismos etc. Talvez tenha chegado o momento de defender a criança de seu próprio semblante e separar a infância deste território de livre ocupação pelo adulto-centrismo, do neurótico-centrismo e da sua normalopatia compulsória, assim como do interesse capitalista que engole qualquer rastro de sujeito.
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