Prelúdios / 3 Discursos edificantes, 1843

Prelúdios / 3 Discursos edificantes, 1843 Søren Kierkegaard


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Prelúdios / 3 Discursos edificantes, 1843


Edição limitada, aumentada e corrigida, com índice remissivo.




Prelúdios, trecho da obra



Na história do sofrimento da justiça tantas vezes a perversidade assenhoreou-se dos pertences da retidão, tantas vezes oprimiu-a sob uma força que se jactava e pretendia justificar seu uso por meio de uma sabedoria animal que é vista prevalecendo-se sobre a maior fraqueza; quantas vezes a humanidade alardeou um direito tirânico a usar do poder em seu benefício; e quantas vezes a justiça foi traída pela astúcia mais sórdida que simulava amizade e encobria sua cobiça fraudulenta; traída pela maquinação mais diabólica que simulava o companheirismo da irmandade para que, no ermo da solidão, sua inveja pudesse apedrejá-la sem ser vista; quantas vezes foi a eqüidade caluniada pela injustiça porque a consciência pesada desta, reavivada pelo bom comportamento do justo, aborrecia a perversidade que desejava sentir-se leve, de modo que esta até fabricou mentira e cavou sentença contra a justiça em um tribunal perverso. Quantas vezes foi o direito maltratado pela crueldade, ofendido, açoitado, torturado, lançado às feras, queimado vivo pelo império desejoso de glórias, ou até mesmo por uma falsa religiosidade que fazia isso pensando estar prestando serviço a Deus. Quantas vezes foi a soberba quem menosprezou a retidão, e só porque esta visitara a casa do homem simples, ou porque a soberba tinha um parâmetro muito grandiloqüente para admitir que a retidão se manifestasse também de outra forma, ou porque agora aquela altivez pintara um quadro de moralidade que era não mais que a exaltação do desejo, tornando-se-lhe moda atacar toda ética com a pretensão de assim defender a vida. ...



© Henri Nicolay Levinspuhl

3 discursos edificantes, 1843, trecho da obra



Na capital do mundo, na orgulhosa Roma, onde todo esplendor e glória mundana estavam concentrados, onde todas as coisas eram obtidas por meio da sagacidade humana, e a avidez tentava o momento na angústia do desespero (tudo para espantar o sensato), onde todo dia testemunhava algo extraordinário, algo horrível, e o próximo dia o esquecia ao ver algo ainda mais extraordinário — na renomada Roma, onde cada um que de qualquer forma cria-se capaz de capturar a atenção pública apressava-se a contracenar em seu legítimo palco, e preparava tudo de antemão para sua recepção de forma que, embora intoxicado de autoconfiança, pudesse astuciosamente utilizar em benefício próprio do escassamente distribuído e invejado momento propício... lá vivia o apóstolo Paulo como prisioneiro, lá ele escreveu a epístola da qual tomamos nosso texto. Ele foi ali trazido como prisioneiro, um estranho para todos, e entretanto trouxe consigo um ensinamento, do qual testemunhou ser a verdade divina, a ele comunicada por uma revelação especial, com a convicção inabalável de que este ensino seria vitorioso sobre o inteiro mundo. Se ele fosse um insurgente que agitava o povo e fizesse o tirano tremer, se houvesse tomado Roma cativa de forma que o soberano pudesse satisfazer seu desejo de vingança com o sofrimento de Paulo, poderia ser martirizado com a tortura escolhida — sim, então provavelmente por um curto tempo seu destino teria sacudido a cada em cujo peito sentimentos humanos não estivessem ainda mortos, por seu horror teria incitado a sensual e curiosa turba por um momento — de fato, o trono do tirano poderia ter sido deposto! Mas Paulo não foi tratado desta forma. Ele era mui insignificante para que Roma o temesse; sua tolice era muito ingênua para que os poderes se armassem contra ele. Quem era ele, então? Um homem que pertencia a um povo desprezado, que mesmo não lhes pertencia, mas antes havia sido lançado fora deles como uma ofensa — um judeu que se tornara um cristão, o mais solitário, o mais abandonado, o mais inofensivo homem em Roma. Ele foi tratado como tal. Sua prisão não era rigorosa, mas ele era um prisioneiro, e ele, que trazia consigo aquela convicção de conquista, designou como sua esfera de ação a solidão da prisão e o soldado que era ordenado a guardá-lo todo dia. ...



Os direitos pertencem ao tradutor

® Henri Nicolay Levinspuhl

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Ana
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