Eu tenho tido uma quedinha por livros mais “lúdicos” que apresentem crianças como protagonistas e esse é exatamente o tipo de história que teremos aqui. Serafina e a capa preta é um livro de fantasia que brinca com a imaginação infantil e também ponto de magia que saem dos livros pra realmente habitar o mundo real.
Acho que o ponto forte da narrativa aqui nem é desvendar o mistério sobre quem é esse homem e porque e como ele faz o que faz. Há algo bacana ai, que conduz durante todo o livro, uma investigação infantil e ao mesmo tempo perigosa. Porém há algo que falou mais forte comigo durante a trama.
“Às vezes, mas só às vezes, desejava não apenas ouvir as pessoas ao redor em segredo, mas também falar com elas. Não apenas vê-las, mas também ser vista.”
Serafina é inteligente e astuta. Mas falta a ela algo que normalmente é construído lentamente de nossa vivência com as pessoas e até da maldade que enfrentamos: auto estima. Por ter sido isolada do convívio social e ter algumas “peculiaridades”, ela acredita haver algo errado consigo, talvez parecer estranha, uma aberração.
Será que o pai a esconde porque tem medo do que as pessoas vão achar? Será que ela é tão horrível assim que não pode ser vista? Quem é sua mãe e porque sua única família nunca quer falar sobre o assunto? Há um mar de perguntas na cabeça da garota e todas elas dependem da boa e velha aceitação. Dela de si, dela pelos outros. Com isso, a questão da família também é bem explorada aqui, tanto para Serafina como usando um outro personagem que vai servir como uma surpreendente aliado nessa aventura.
Aliás, é desse aspecto que sai a cereja no bolo do livro. A obra de Robert Beatty é para dizer o mínimo, despretensiosa. Não parece haver a intenção de contar uma história épica. É tipo um conto de fadas, mas com um toque assustador. Só que ai chegamos ao fim do livro onde descobrimos bem mais sobre a mitologia desse mundo e a real “fantasia” que há ao redor de tudo isso.
“Os caixões se mexiam na terra instável. Os corpos desapareciam.”
Eu não estava preparada pra isso, então demorei um pouquinho pra me acostumar com a ideia que havia sido inserida na trama e as implicações de tudo aquilo. Depois de ruminar um pouco a leitura, percebi o quanto isso abria um leque enorme de possibilidades a serem exploradas e fiquei menos relutante. Também notei que foi exatamente o fato de eu ter colocado a história como uma narrativa mais infantil e despretensiosa que fez com que eu me chocasse ao encontrar uma reviravolta. Mas porque não, não é?
Sendo assim, se você gosta de livros com essa pegada mais lúdica e que envolve crianças como narradoras, fica aqui a recomendação. O livro tem pouco mais de 200 páginas e é uma leitura super levinha. Vale a pena ressaltar também que mesmo sendo o primeiro livro de uma série, é uma história fechada. Então, você não precisa ficar desesperado que terá de ler outros livros depois, pois se quiser, pode aproveitar essa aventura e encerrar por aqui. Ou, caso goste de Serafina como eu acredito que você vai gostar, aproveitar para depois ler mais aventuras dessa garota.
Lá fora existem outros dois livros com a personagem e já não vejo a hora de ler mais histórias mágicas envolvendo ela e seus mistérios, pois mesmo com o fechamento, algumas coisinhas ficaram soltas para darem liga nos próximos volumes. Ah… e meu personagem preferido é o Gideão, que eu não vou contar quem é! :D