A jornada da heroína

A jornada da heroína



Resenhas - A jornada da heroína


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Marcelo 23/05/2022

Uma introdução razoável
Curtinho, engraçadinho e bonitinho. Não entra muito nos detalhes, mas é uma introdução bastante razoável ao monomito com uma historinha de exemplo bonitinha.
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Paulo 26/04/2020

Talvez essa seja a grande pergunta que Fran Briggs procura responder com o seu divertido guia para esta velha mecânica que ainda hoje é utilizada em diversas mídias (sejam livros, séries de TV, cinema). Decidi não fazer uma resenha sobre esse livro ilustrado porque acho que nesse caso cabe mais essa discussão. Esta mecânica acabou se popularizando graças a Christopher Vogler que escreveu um livro chamado A Jornada do Escritor. Nele, o autor nos apresenta uma estrutura para composição narrativa baseada naquilo que Joseph Campbell chama de estrutura mítica (em seu livro O Herói de Mil Faces). Não vou entrar em detalhes a respeito (até posso depois montar uma matéria se vocês, leitores, quiserem) mas simplificando muito, Vogler constrói uma espécie de estrutura em etapas que levam um personagem das suas origens até sua apoteose como herói. Vogler foi um dos consultores de roteiro para Star Wars: A Nova Esperança, então esse é um dos lugares em que vocês podem ver essa estrutura em ação.

Fran Briggs buscou decompor toda a longa estrutura montada por Vogler (são 488 páginas na edição da Aleph) e brincou um pouco com os clichês. Achei muito divertida a forma como ela buscou apresentar toda a estrutura narrativa partindo de uma jornada simples: uma garota preguiçosa indo buscar pão para sua mãe. Eu até imaginei que a autora iria tecer críticas colocando a estrutura toda de forma sarcástica, mas não foi o caso. A ideia é muito mais brincar com essas estruturas e apresentar tudo de uma forma fácil e didática. Sério, gente... são 80 páginas sendo que boa parte delas tem desenhos. Acho que se tiver 40 páginas é muito. E mesmo assim eu senti que qualquer pessoa consegue entender tudo, mesmo se não tiver nenhum conhecimento prévio. A arte é linda e divertida e cada uma delas busca passar a etapa que está sendo descrita no texto. É uma exemplificação da respectiva etapa. Nesse sentido, a proposta cumpre bem o seu papel. Não esperem uma arte super detalhista, porque essa não é a ideia. Para mim, funcionou super bem.

Sobre a estrutura em si, como qualquer mecânica chega um momento em que há um stress, um momento que de tanto ser usado, é preciso deixar descansar. Ou então pensar em uma maneira para não tornar a estrutura tão óbvia como parece. O que a Fran nos apresenta são os passos básicos sem ordenar ao leitor como ele deve usar. Tudo o que ela apresenta pode ser reinventado porque a HQ não tem a pretensão de ser um guia. Talvez o que torna o livro do Vogler tão icônico é que ele esmiúça demais todo o mecanismo e o leitor fica tentado a copiar tudo ipsis litteris, sem modificar nada. E não é nesse sentido que ele escreveu o livro. É possível mudar... surpreender, sem mexer demais na Jornada em si. Christopher Nolan fez isso na trilogia do Batman. A gente consegue ver ali a Jornada do Herói, mas em diversos pontos temos alguma coisa diferente ou alterada de forma a surpreender o leitor.

Outro ponto que eu já cheguei a comentar em outras matérias é que não há só a jornada do herói como estrutura narrativa. Temos a estrutura em três atos, como ficou famosa pelo autor Robert McKee em seu livro Story: Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita do Roteiro. Por décadas foi A estrutura dominante no mundo cinematográfico. Mas, pensando melhor depois, poderia ser interessante mesclarmos diversas estruturas narrativas. O roteiro precisa atender às necessidades daquele que está escrevendo. Para a pequena aventura da Fran Briggs em sua HQ, a narrativa mítica serviu bem, apesar de ela brincar um pouco com as expectativas aqui e ali. O ponto é: podemos criar em cima daquilo que foi feito. As mecânicas podem ser alteradas ou mescladas. Quem manda no roteiro é o roteirista e não a estrutura.

Em última análise, qualquer coisa bem feita pode ser única. Mesmo que seja uma estrutura ultrapassada. Vou usar um exemplo bobo para isso (pegando um pouco da good vibes da Fran). Eu sou um fã de wrestling (luta livre). E uma das características básicas do wrestling é contar uma boa história que culmine em um combate entre dois ou mais indivíduos. Seja uma história de vingança, de traição, de inveja, de dominância. Não importa. Bom wrestling vem de um bom roteiro (e não apenas das habilidades atléticas dos envolvidos). Como espectador, eu preciso me importar com o que esteja acontecendo. Hoje, a empresa dominante neste ramo é a WWE, uma empresa que já está no mercado há mais de quatro décadas. Como qualquer empresa há muito tempo no mercado, ela se acomodou. Quase sempre suas narrativas são recauchutadas ou repetitivas, o que cansou os fãs mais apaixonados do gênero. No último ano, apareceu uma concorrente à WWE, a AEW, formada por lutadores mais jovens e alguns mais experientes sob a tutela de um milionário do petróleo. O curioso dessa nova empresa é que ela vem empregando modelos de roteiro usados nas décadas de 1980 e 1990. Roteiros que seriam chamados de ultrapassados e tolos, mas que os membros da equipe criativa conseguiram adaptar para o público nos dias de hoje. O que eu quero chegar com isso é que não importa qual estrutura narrativa você use... O que importa é entregar aos seus leitores uma história que seja criativa e envolvente. Para um autor, o pior tipo de reação não é o ódio, mas a indiferença.

Enfim, eu recomendo A Jornada da Heroína? Claro! Achei tão divertida e criativa que eu vou indicar a todos os meus amigos, sejam eles autores ou não. É uma forma prática de conhecer aquilo que a gente acompanha há tanto tempo na televisão. A Fran traz tudo de uma forma tão ágil que você vai devorar esta HQ em uma sentada, mas eu garanto a você que será uma daquelas HQs que vamos reler inúmeras vezes.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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