andré 17/05/2021
Uma carta de ódio aos quadrinhos de super herói
O problema do texto do Ennis é que é tão visceral, com diálogos tão ácidos e ágeis, ação escatológica, mais que mamilos, seios inteiros aparecendo e páginas que grudam você nunca sabe se com tanto sangue ou algo menos casto. Ou seja, é tão divertido que você as vezes esquece que o Ennis está te enrolando. E, rapazes (sem trocadilho), como ele enrola a gente nessa série. A história começa no volume 1 e dá volta em círculos até o 8, com arcos inteiros que não levam a nada, literalmente, são tão dispensáveis que as resoluções caem do céu, sem qualquer agencia dos protagonistas e não impactam nada na história. São arcos que poderiam ter sido resumido em um ou dois arcos com mais substância. Até a violência, sexo e sarcasmo perde um pouco do sentido nesses arcos, quase ficando monótono. As vezes para criar um conflito interno de um personagem, desencadeado por uma única ação, Ennis escreve um arco de cinco partes. Mas então, chega o enorme (tem o dobro de páginas que as demais edições) e finalmente a série ganha foco, desenvolvimento e as coisas vão esquentando. A grande luta não acontece na história, ficando implícita e sendo resolvida em dois quadros. Achei frustrante. Se a ideia era fazer os supers de ridículos, que ao menos saíssem no braço como adultos. No fim, só nas últimas edições o Ennis que escreveu Preacher e O Justiceiro aparece. E por falar no queridinho da Marvel dele, é incrível como o Carniceiro é a uma paródia do próprio personagem. Eles têm a mesma motivação, o mesmo lado psicótico adormecido, os mesmos métodos e uma personalidade que só muda pela quantidade de sorrisos que eles conseguem emitir. Até a cruzada dos dois é igual. Quanto aos personagens em si, esse é um mundo sem carisma. Todos os personagens são escrotos de alguma forma, o que é legal, torna o universo mais crível. Só é triste o protagonista não ser desenvolvido, nem realmente amadurecer ou se ferrar por isso. Ele é machista, medíocre, chorão, covarde, egoísta, burguês, e termina da mesma forma. Algo genial ou muito questionável, depende de cada leitura. Os desenhos são bem funcionais, não empolgam, sequer são mais que esquecíveis e o principal desenhista só sabe desenhar quatro expressões de rosto. As cores são bem computadorizadas, mas acabam se destacando por isso. Quanto as edições da Devir, que serviço editorial mais preguiçoso. Não traz informações sobre os anos de publicação das histórias, quando têm mais de um arco na edição e mais de um desenhista, a edição não traz qualquer informações sobre quem desenhou o que, você precisa tentar adivinhar pelo traço. E nenhum volume, NENHUM, vale o preço de capa. É capa cartão vendido pelo preço de capa dura e tenho certeza que com a série em alta não temos aqui um quadrinho underground pouco vendido. É divertido, mas está longe de ser o melhor trabalho do Ennis ou a melhor desconstrução do gênero. É tão bom quanto uma masturbação saudável, que em grande medida é o que o Ennis faz aqui.