jesscso 08/03/2023
Tempestade: Raios e ciclos
Uma capa simples, para a edição que iria impactar todo o arco. Tempestade, o quinto capítulo de Uma Luz Que Se Apaga, cumpre seu propósito e leva uma personagem querida embora.
Durante todo o capítulo a chuva é a chave essencial. Mas é tudo muito triste: todos os personagens dizem adeus sem dizer adeus para seus familiares e amigos próximos. Deve ser agoniante saber que qualquer um pode morrer ? uma sensação parecida que tive na pandemia. E é nesse clima de despedida que Mônica vê talvez a sua última chance de se resolver com Irene, com quem está tentando conversar desde o início do arco. Na chuva, ela sai correndo atrás dela, e Irene a confronta, fazendo perguntas do porquê do comportamento estranho de Mônica com ela. Antes que ela termine, uma cena linda: Mônica a interrompe com um abraço. Os guarda-chuvas caem.
?Sei que deve me achar estranha. Sei que tem medo de mim, e eu não sei como lidar com isso! Já tentei de tudo, esta é a minha última tentativa. Irene, eu quero ser sua amiga! De verdade.?
É um dos momentos mais marcantes da revista. A imaturidade chata de Mônica da primeira série sempre as fez serem afastadas, fez Irene se sentir culpada. Esse arco trabalha Mônica como alguém que aprendeu com seus erros e que mesmo se continuar dando mancada, vai se redimir. Irene fica sem saber o que dizer, perplexa, na chuva. Será que seria ela a ser levada pela Ceifeira?
Trocando de cena, Cebola atrai a Ceifeira para si quando simulou um suicídio (cena pesada, por sinal). Temos mais algumas revelações para consolidar a nova personagem, e descobrimos que há mais de uma. Mas Cebola não quer saber disso: ele quer se entregar. Ser a pessoa que vai morrer. Ele não suportaria que outro conhecido fosse em seu lugar. A Ceifeira não quer que ninguém morra, compadeceu-se deles, mas não pode fazer nada. Quero fazer uma observação: essa cena teria mais peso pro arco se fosse Cascão e a Ceifeira com o rosto de Cascuda ou Antenor. Infelizmente Cassaro tem seus preferidos, mas entendendo também que essa cena mostra outra evolução: Cebola sempre foi avarento, egoísta. Seu ego sempre foi enorme. Oferecer-se assim, sem pensar duas vezes foi um ato nobre. Mas não só ele o fez: toda a turma que sabia tentou. Todos eles. Isso me emocionou e emociona muito.
Magali sempre foi uma personagem mais sensível, e é a primeira a perceber quem morrerá na tempestade. Eles correm, desesperados, mas chegando lá... É tarde demais. Essa cena me arrepiou e me arrepia mesmo relendo! Não estou preparado para reler o último capítulo.
Destaque para os desenhos de Roberta Pares que estreia em um arco principal; seus traços fluídos deram mais emoção ao capítulo. Não é a toa que é a minha desenhista favorita de TMJ.
As one-shots quebram todo o clima do arco principal, como um arco-íris depois da chuva ou no caso de Raridade, aquele cheiro de terra molhada. Lederly Mendonça tenta misturar realidade com fantasia aqui e não dá muito certo. A história começa muito bem dando foco ao pai do Cascão, que perdeu o emprego. Querendo ajudar, Cascão vai a antiga casa de seu tio pegar uns gibis. O problema é que do nada ele e Nimbus (o que ele tá fazendo aqui alem de figuração?) são levados a uns túneis e tem monstrinhos de sujeira lá e etc. Seria uma história mais interessante se apenas deixasse no ar que o Capitão Feio poderia voltar. Tem referências legais à supersaga mas de resto é contraditório ao título: é uma história esquecível.
Já Os Cebolas Saem de Férias, de Daniel Mallzhen, é o arco-íris depois da Tempestade. Não sabia que precisava de momentos felizes e clichês da família de Cebola até ler e reler! É uma narrativa simples, engraçada, com desenhos lindos. Me deixou feliz, e ensina que os melhores momentos são construídos com a família, independente do lugar.
Esta edição continua o arco principal maravilhosamente, o único problema é os roteiros de Lederly sendo na maioria confusos no final... Mas tudo é um processo, ele é um escritor criativo e se supera no futuro.