spoiler visualizarRafael D. Ravelli 14/01/2024
Resenha
Introdução
Recentemente estive na Comix Book Shop Bookstore, loja de quadrinhos localizada próxima à av. Paulista, em São Paulo. A casual visita reinflou-me o desejo pelos mangás, e este título a mim foi sugerido. Sabidamente veria aqui uma história para público adulto, onde observo encontrar-me hoje.
Capítulo 1 – Leito íntimo no rio Sumidagawa / Capítulo 2 – Elegância sob a chuva de sangue
O desenhista possui traço leve, descontraído e eventualmente cômico (achei engraçado retratar os pelos das pernas dos personagens masculinos).
Somos apresentados à protagonista e veremos sua atuação na busca por vingança, caçando personalidades envolvidas com o crime organizado e prostituição. Pouco se nota da personalidade da Lady Snowblood, o que a aproxima da frieza pretendida.
Capítulo 3 – Confissões de ódio e laços de sangue
Chegamos aqui à explicações do passado da protagonista e as intenções colocadas sobre ela que eclodiram em tamanha frieza e violência. Vimos a história de sua mãe e o massacre a sua família, assassinada e torturada por autoridades corruptas. Vimos o conceito budista de Shura, personificando o sofrimento da família na nova geração que agora vive.
Observo com razoabilidade a estratégia da mãe ao permanecer em silência durante o julgamento de seu homicídio doloso, que acarretaria em sua prisão perpétua. Delegar sua vingança às autoridades policiais não seria suficiente, teria que acertar as contas pessoalmente. Ter um filho na prisão foi a alternativa então, no caso uma filha, no caso a protagonista.
Capítulo 4 – Dança da lâmina e das flores mortais – Partes 1 e 2
Nessa história somos introduzidos aos riquixás, meio de transporte de pessoas semelhante aos motoristas de aplicativos atuais. O roterista Kazuo Koike traz elementos culturais vezes ocultado da história, observando vulgaridades entre casais durante viagens e estupros que os motoristas cometiam. Interessante o comentário sobre os motoristas dirigirem em “três pernas”. A protagonista Shura então é introduzida para desmascarar uma empresa de riquixás que vinha sequestrando jovens e as aliciando em esquemas de prostituição.
O argumento e desenvolvimento do roteiro é bem estruturado, mas o arco narrativo perde verossimilhança no fechamento e conclusão. A protagonista infiltrar-se na máfia como alguém inocente funciona bem, mas a ideia de querer pintar os riquixás é fraca não convence. A figura do Rei pintado no carro na armadilha que ela cria leva ao possível enforcamento e perda de reputação do grupo. Novamente, não agrada muito.
Capítulo 5 – Panorama de um assassinato em Rokumeikan – Partes 1, 2 e 3
Este arco da história explora menos a personalidade da protagonista do que eu imaginava, segue fria e misteriosa. No sentido da construção e desenvolvimento do personagem, poderia ser melhor explorado. Ter a protagonista tão impessoal pôde afastar leitores menos entusiasmados.
Seremos introduzidos às batedoras de carteiras do Japão colonial, Recurso utilizado como meio para a materialização do Roteiro. A protagonista Shura Yuki irá treinar a técnica para futuramente incriminar donos do casa de festas Rokumeikan.
Gostei da retratação do contexto histórico da “ocidentalização” do Japão por povos europeus e americos. A casa Rokumeikan neste sentido representa a novidade, por apresentar festas para estrangeiros e políticos, oferecendo jovens locais por dinheiro e fama. A defesa do tradicionalismo local em detrimento da abertura à novas culturas mostra-se ótimo ponto de convergência nacionalista e funcionou aqui.
O capítulo seguiu com a violência e crueldade até então observadas. Diversos assassinatos pela Shura, incluindo cenas de abuso sexual.
Conclusão
Vejo o Título como uma boa história, temos boas referências históricas, políticas e culturais. Pôde-se viajar também por um lado mais obscuro do Japão, mais distante dos holofotes. Enquanto arte, os desenhos são leves, cômicos e despretenciosos, o que traz continuidade à leitura. Enquanto roteiro, gosto da ideia da vingança pelas mãos das gerações futuras. Como revés, faltou maior profundidade sobre a consciência da protagonista. Espero que o próximo volume abranja sua psique.