Tracinhas 19/10/2015
por Kamila Zöldyek
Bem, como eu moro numa cidade de interior, os mangás chegam aqui por último. É a famigerada Fase 2: só depois que os mangás são recolhidos das bancas das capitais é que eles resolvem mandar pra cá. Sim, eu odeio isso.
Então, quando All You Need Is Kill chegou na banca aqui, a hype do filme Edge of Tomorrow já tinha passado há uns… seis meses. Então, eu não tinha a mínima ideia que esse era o mangá daquele filme do Tom Cruise. O que me fez comprar o dito foi abri-lo e ver as armaduras mecânicas mais lindas da minha existência. Vi que quem assinava a arte era o Obata-sensei (Death Note e Bakuman) e levei na hora. Ou seja, eu não sabia sobre o que era história, quem tinha escrito, eu não sabia NADA.
E sabe de uma coisa? Foi uma ótima compra.
A história é sobre o soldado Keiji, que acorda de um pesadelo na véspera da sua primeira batalha contra os Mimetizadores. Eles são uma espécie alienígena que quer varrer os humanos da face da Terra, e tenta fazer isso há anos. Como japonês não sabe brincar, inventaram uma armadura de combate que pode deter os bichos… ou quase.
Keiji é um cara sério, focado. Ele nasceu num mundo em guerra, e se alistou no exército porque quis. Ele não é uma máquina insensível que tá doido pra meter bala nos ETs; ele tá com medo da coisa, é claro, principalmente depois de acordar de um sonho macabro onde ele morre de um jeito horrendo. Mas o que ajuda a não pensar que a investida será um fracasso total é uma equipe americana, que está lá para ajudar a proteger a base.
A equipe da Rita do-sobrenome-difícil.
Rita é uma moça de uns vinte anos, de um metro e meio, olhões expressivos e cabelo curtinho, uma gracinha, que é a personificação do inferno para os mimetizadores. A mulher já matou mais deles que você pode contar, e ela usa um machado de guerra, ao invés das armas de fogo que todo mundo usa. Resumindo, ela é linda, diva e poderosa.
Finalmente, eles vão para a batalha, japoneses e americanos. O que acontece lá é um massacre. Keiji está em sua posição, nervoso, claro, faz seu trabalho, mas são tantos mimetizadores que não dá. Morre todo mundo.
Inclusive Keiji.
Só que, assim que ele morre, acorda no dia anterior, se lembrando de tudo que aconteceu, cada detalhe, inclusive sua morte.
Então, ele faz o que pessoas sensatas fazem: CORRE PRAS MONTANHAS.
Sai da base e cai fora, nem liga pra deserção, só não quer morrer de novo. Só que aparecem mimetizadores e ele morre.
E acorda.
E morre.
E acorda.
E morre.
E acorda.
E morre.
E acorda.
E morre.
E acorda.
E morre.
Um algoritmo bem simples:
if(morreu()){
acordar_ontem();
}
Ele entendeu o algoritmo, e entendeu também que o primeiro sonho do qual ele acordou foi a primeira iteração do loop. E acima disso tudo, compreendeu que precisava sobreviver. Simples? Nem tanto. Os mimetizadores são muito espertos, muito mortais e muito numerosos, e Keiji é só um soldado que nunca pisou no campo de batalha e não sabe o que tá fazendo.
Mas ele tem duas vantagens: reiniciar o dia E manter as memórias.
Assim, ele aprende mais a cada morte, e tenta de novo, usando backtracking força bruta tentativa e erro.
Chegou a uma hora em que ele não se importava mais em morrer.
Nem em ver seus amigos morrendo.
Ele virou uma máquina matadora de ET feioso. Isso não soa familiar…?
Bem, parando antes dos spoilers, a história é ótima. Keiji e Rita são verossímeis, e conhecemos bem mais sobre ela no volume 2. O desfecho tem um plot twist LOUCO que me deixou perplexa querendo atirar o mangá pela janela.
Eu nem preciso falar da arte, né? Obata-sensei é MESTRE. O traço dele é lindo, é referência, eu ando com esse mangá pra todo lado e reli umas três vezes pra ver se consigo pegar o jeito dele.
Amei o mangá, simplesmente. Ele foi baseado em um livro, do Hiroshi Sakurazaka, e entre um capítulo e outro, há trechos desse livro, que são espetaculares.
Pra mim, valeu cada centavo.
Então, quando soube do filme do Tom Cruise, corri pra baixar, é claro. A história era muito boa, eu precisava ver como eles iam fazer e…
Vocês sabem o que Hollywood geralmente faz com adaptações orientais, né? Pega o original, lê, ri dele e faz tudo diferente. Eu entendo que é uma adaptação, que a coisa não pode ser assim ou assado, são mídias diferentes, mimimmiimimimimimi. Eu entendo quando se trata de uma obra difícil pra adaptar, mas gente! O mangá é de batalha! Há cenas de ação de cabo a rabo! Tá fácil pra adaptar sim! Mas não. Vamos fazer desse outro jeito aqui, que vai ficar melhor.
NÃO VAI, CALA A BOCA.
Em suma, a única coisa que Edge of Tomorrow e All You Need Is Kill tem em comum são os mimetizadores, ponto.
Keiji Kiriya virou William Cage, que é um babaca. Ele evolui muito, claro, de tanto morre-e-volta, mas em suma, é um babaca.
Rita continua sendo Rita, e apesar de não se falar muito dela no filme, não ficou ruim.
Umas coisas do mangá que apareceram no filme ficam lá só de referência, como a primeira coisa que a Rita diz pro Keiji todo dia: “Tem algo no meu rosto?”; e quando a Rita pega a bateria do Keiji antes dele morrer; e a cena do café, que ficou no mínimo muito, muito ruim. Enquanto no mangá ela tem um significado forte, principalmente no final, no filme foi só uma cena mesmo.
Os pontos positivos do filme são (a) Tom Cruise; (b) Meu ship zarpou; © Efeitos especiais. Como adaptação, falhou feio, mas como filme de ação com Tom Cruise, ficou bem legal, apesar daquele final que eu não entendi.
Enfim, o mangá vale muito a pena, tanto pela história quanto pela arte, e dou 5 estrelinhas sem pestanejar.
Para o mangá, vejam bem.
site: http://jatracei.com/post/131458582577/resenha-95-all-you-need-is-kill