spoiler visualizarLucas 26/03/2015
O conceito de aventura para Kentaro Miura
[ATENÇÃO, A RESENHA A SEGUIR CONTÉM UM OU MAIS SPOILERS PARA O MANGÁ EM QUESTÃO. PROSSIGA COM CAUTELA]
Gigantomachia, obra em volume único de Kentaro Miura, mesmo autor da consagrada série em mangás "Berserk", é sem dúvida uma história bem interessante.
No mangá, acompanhamos dois personagens centrais: Prome e Delos. Os dois são responsáveis por encontrar as partes de gaia e, com elas, restaurar a ordem no mundo. Em sua viagem, eles acabam encontrando uma civilização mais avançada que os humanos e são desafiados por eles para que possam provar que não são inimigos que vieram de um exército que estavam atacando-nos até pouco tempo e também para provar o valor dele como seres vivos. No meio dessa passagem de transição entre a descoberta do local e da competição, os dois começam a reconhecer o local e reconhecem que ali pode ter um dos pedaços que procuram. Por isso, Delos aceita competir, mas, além disso, acaba lutando de forma a deixar seu oponente se esforçar ao máximo, ganhando-o por pouco e fazendo com que sua derrota não fosse, assim, uma vergonha para seu povo. Depois de encontrarem o que queriam, sua conversa com a líder local é interrompida devido à uma invasão de um exército inimigo. Com ela, uma situação triste se instaura: pais, mães e filhos criados para lutar se preparavam para uma derradeira batalha com pouquíssimas chances de vitória contra os colossais aparatos tecnológicos criados pelo exército. E aí temos nossa primeira barreira cultural: aqueles que prezam pelo culto ao corpo, pelas lutas em artes marciais e por batalhas iguais as de gladiadores e os que simplesmente tomam tudo que querem à força utilizando somente de seu conhecimento para aumentar seu poder. Os dois acabam se envolvendo na guerra e Prome mostra que, além de seus poderes para curar Deimos, ela pode envolver seu corpo e, com ele, possibilitá-lo se tornar um gigante colossal, ou um "Gigantomachia". Claro, eles ganham a batalha, mas o ganho de verdade para Deimos só vem quando ele consegue, através de uma longa discussão, convencer o povo que havia sofrido antes com a intervenção dos humanos a perdoá-los e deixá-los voltarem vivos, a fim de evitar ainda mais confrontos como aquele. Depois disso, eles informam sobre seu objetivo e prosseguem em viagem para encontrar as outras partes, deixando o leitor com o sentimento de que a jornada apenas começou...
O mangá contém aspectos históricos muito interessantes. Referências à Grécia Antiga, cenas de luta empolgantes, a necessidade de exemplificar o que é um impacto cultural, cenas de comédia entre os protagonistas para enaltecer o clima como um todo e, mais importante, a sensação de aventura e de descobrir locais e pessoas novas que o autor consegue passar perfeitamente ao longo das páginas, mesmo sendo só um volume.
Não há o que comentar do traço, ele é indiscutivelmente lindo. O Miura é extremamente perfeccionista quando se trata de desenho. As páginas duplas são um mimo à parte e mostram bem o poder do desenho dele. Para curiosos, irei utilizar uma foto do site "JBox" como exemplo:
http://www.jbox.com.br/wp/wp-content/uploads/2015/02/gigantomachiaexemplo1.jpg
Há um sentimento de vazio ao terminar o mangá, principalmente com o último capítulo que é inteiramente voltado para comédia. Mas a finalização do penúltimo chega a ser poética. E acho que aquilo representa a interpretação do Miura sobre o que é jornada, o que é se aventurar e o que é poder ver o mundo mudar das mais diversas formas a cada centena de milhões de anos...
A edição nacional é bela, com uma ótima tradução e diagramação, sem falar do papel em offset que realça a qualidade do desenho. As capas internas são bem legais e combinam com a capa do mangá em si (que tem uma contra-capa bem mais bonita até). Um belo trabalho da Panini que caprichou neste volume único. Inclusive, eles chegaram a comentar que o autor mistura palavras em grego com palavras em japonês. Imagina o trabalho que deve dar! Palmas para o pessoal da tradução! ^^
Com certeza é um mangá de volume único que vale a pena ter na sua coleção se você é fã do Miura. Se você não for e gosta de títulos assim, mesmo se o final ficar um pouco mais aberto do que o normal (por exemplo, "Só Você Pode Ouvir" oferece um final mais fechado do que esta obra, na minha opinião), também vale a pena para sua coleção de títulos de volumes únicos. E se você gosta de um mangá que trabalhe guerra, culturas diferentes, aventura e comédia, tenho certeza que este lhe agradará bastante.
PS: Não sei porque demorei tanto para resenhar este mangá, já era para ter feito isso faz tempo.
site: smluca.wix.com/lucasmendes