@blogleiturasdiarias 15/09/2018Resenha | A Voz do SilêncioSabe aquele mangá que você não espera grandes coisas, mas te surpreende imensamente?! Koe no Katachi entra nessa categoria. Sempre tinha ouvido falar bem da história, porém o receio sempre me deixava com um pé atrás. E mesmo assim resolvi arriscar, e acabou que não somente gostei, entra para ser um dos meus favoritos.
Shouya é um bully, suas brincadeiras infantis são uma verdadeira tortura para sua colega de classe, Shouko, uma nova aluna surda. Conforme a coisa piora e todos ao seu redor parecem ignorar ou estimular as brincadeiras maldosas, Shouya passa dos limites, forçando Shouko a mudar de escola. Tendo sido considerado o culpado por tudo, agora é ele quem sofre torturas e bullying, aprendendo na pele o seu erro. Seis anos depois de todos os ocorridos, o rapaz decide encarar de frente a menina que atormentou e tentar corrigir os erros do seu passado. Será que ele conseguirá sua redenção? Ganhador de diversos prêmios no mundo todo, A Voz do Silêncio, no original Koe no Katachi, chegou a ser adaptado para as telonas no final de 2016, tornando-se um dos grandes sucessos do ano.
Enredos que conseguimos tirar grandes lições de vida são os melhores. E é o que mais me tocou e me fez pensar em colocá-lo como um dos meus favoritos do ano. Bullying é um assunto complicado, e que deve ser debatido. A forma como a mangaká trouxe isso é sensacional. Porque veremos que não é somente quem sofreu bullying que passa por problemas. Mas o que isso pode acarretar em volta. Em como todos possuem problemas, visíveis ou não, e como esta situação afeta não só você, mas o grupo que convive.
Eu comecei o desenvolvimento realmente odiando o Shouya, pensando seriamente que seria um protagonista que me faria passar altas raiva. E ao longo do quadrinho vi que não. Ao mesmo tempo que você entende a dor que ele causou a alguém que não lhe fazia nada, se colocar no seu lugar nos faz sentir as consequências que ele teve por esse ato destrutivo. É uma história de muita redenção, de muito perdão não só dele, de uma lista imensa de personagens. Uma ação que desencadeou várias reações. E por incrível que pareça, ele tornou-se o meu protagonista favorito. Soube dar a volta por cima por todo problema que criou. Ou pelo menos no final tentou.
Shouko é que deteve a maior surpresa. Não esperava encontrar algumas escolhas que ela tomou. Talvez propositalmente, a forma dela comunicar foi difícil de ser transpassada, e por isso não vi a grande reviravolta que acontece com ela chegando. Fui impactada. Porque não era algo que imaginava vindo dela, porém reforça o que falo sobre uma situação deslanchar vários outros pontos. Seu lado meigo, frágil e sorridente esconde grandes sentimentos que em um momento a sufocará. E a explosão é grande, e que afeta vários.
Temos alguns secundários — Tomohiro Nagatsuka, Miyoko Sahara, Miki Kawai, Satoshi Mashiba e Naoka Ueno — que formam o grupo principal, e adicionam mais dramas e cenas divertidas durante toda a trama. Sendo uma equipe de suma importância em algumas decisões, mostraram ser um turma coesa com a narrativa. Alguns deles não gostei muito, confesso, entretanto outros são maravilhosos.
De uma forma geral, é uma coleção que aconselho a ler com todos os volumes comprados — a não ser que queira ficar ansioso pelos ganchos que são deixados em cada final. Traz reflexões que podemos usar no dia a dia de forma direta e outros de forma subentendida. O que posso afirmar com absoluta certeza, é que vai além da classificação drama e romance — e este segundo na minha opinião é mínimo. As questões de perdão, superação e entendimento das atitudes que teve é o maior enfoque. Por isso mega recomendado pois vai incomodar, vai fazer você pensar em um tema que tem relação com nossa atualidade.
Houve adaptação para filme animado japonês, que me instigou por sem bem fiel, só que partes importantes do mangá não são mencionados no filme. É bom para fazer comparação entre as duas formas de arte, e acho que seria até uma opção a quem não quer se arriscar primeiro no mangá — contudo aviso que a leitura do mesmo é essencial, então leia hahaha.
Sobre as partes físicas, eles são menores do que os mangás das editoras Panini e JBC, o que deixou ele desigual na coleção. Só que me informaram que é basicamente o padrão da New Pop. É folha offsset — o que justifica o preço de R$ 16,00 — e a capa interna possui detalhes (em preto e branco). Não possui folhas coloridas e existe alguns erros de revisão e cortes nas folhas que me incomodaram (aquele erro de gráfica quando cortam a folha de forma torta e ai as falas e as imagens saem também cortadas). Se pesar na balança, vale a pena a comprar.
Sobre o traço da mangaká, achei ele maravilhoso. É um dos grandes destaques. Não é aquele padrão que nos é esperado, nem o comum, e é carregado em detalhes quando necessário. Quando os sentimentos são muito fortes, ela consegue perpassar essa sensação nas feições dos personagens de forma claríssima. Isso me pegou desprevenida, o que me faz tirar o chapéu. Te transpassa o sentimento de dor, de sufocamento, todo aquele turbilhão de emoções.
Queria que alguma editora trouxesse a nova obra dela ao Brasil, intitulada Fumetsu no Anata e (To You, The Immortal), no entanto sabemos que esperarei sentada. A quem se interessar é de fantasia. Mais uma que entra para meu ranking de queridinhos. Espero que tenham gostado!
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