Os Novos Titãs Vol. 4

Os Novos Titãs Vol. 4




Resenhas - Lendas do Universo DC: Os Novos Titãs


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Paulo 22/12/2022

Essa é uma oportuna pisada no freio por parte do roteiro de Marv Wolfman. Duvido muito que isso seria possível hoje com a necessidade que o leitor contemporâneo tem de te informações rápidas sobre o seu personagem ou personagens. Ao longo de quatro meses, Wolfman dedica uma edição de uma série limitada a apresentar partes do passado dos novos membros do Titãs (apesar do Mutano não ser tão recente assim). Ao mesmo tempo em que ele fornece bons conteúdos sobre eles, brincando com o roteiro aqui e ali, ele deixa pistas sobre possíveis direções futuras para a série. Mesmo as histórias que iniciam essa edição, que são fechadas em si, são divertidas e apresentam situações que testam os limites do grupo. No fundo, uma ótima edição e nem conto com a sempre exuberante arte de George Perez que está cada vez mais afiado.

E comecemos pela lenda George Perez que tem um desempenho fora desse universo nessa edição. Se eu disse que na edição passada ele se conteve mais, aqui ele arrebenta com a porta. Algumas de suas composições sequenciais são maravilhosas. Nessa edição ele chegou à versão final do deisgn de seus personagens e agora ele só brinca com eles. A gente consegue sentir o quanto ele está à vontade com eles. As capas e imagens grandes das edições individuais dos Titãs são maravilhosas com destaque para a do Ciborgue e a da Estelar. Tem um quadro de página inteira repleta de cenas interpostas logo após a recuperação do Ciborgue que só é possível de ser feita nos quadrinhos. Cada ceninha nesse quadro maior mostra uma etapa da recuperação do personagem, mostrando alegrias e tristezas vividas nesse momento. Isso sem falar nas expressões do Ciborgue que mostram a dor que ele viveu e em o quanto ele se revoltou com o que foi feito em seu corpo. Ou a ótima representação de como Vic passou a ser recebido pelas pessoas ao seu redor. Perez consegue nos mostrar uma atmosfera hostil e posiciona o personagem no centro de um quadro enquanto que dos lados todos parecem encará-lo. A posição do personagem e o ângulo da cena revelam tudo isso. Ótima composição!

Também quero comentar sobre o da Estelar que é lindo também. Nos trechos da Estelar, Perez mostra o quanto sabe entregar cenários alienígenas com precisão. Me faz pensar no detalhamento de um Jack Kirby na hora. Perez cria mundos que são bastante distintos um do outro. E nessa história fechada da Estelar ele cria Tamaran, Okaara, a Cidadela e a nave dos Psions. Tudo em vinte e cinco páginas ricas em detalhes e coisas acontecendo ao fundo. Tem uma composição de seis quadros de página inteira que é magnífico. São mostradas cenas de Tamaran com uma silhueta branca do rosto da Estelar no fundo como se ela fosse uma nuvem branca passando nos céus tranquilos de seu planeta. Lindo demais! Sem falar na pin-up de capa da Estelar que é um escândalo. Quando a gente diz que a Estelar era uma bombshell nos anos 1980 era por causa disso. Detalhe: sem sexualizá-la. Ela é sensual à beça e sem a necessidade de ser apelativo. Poderia falar da cena do quadro abaixo no especial da Ravena, mas aí não consigo falar mais do roteiro.

Falando rapidamente sobre as duas primeiras histórias, uma delas faz uma espécie de integração com o mundo DC maior. Assim como vimos na história com a participação do Clifford Steele, Wolfman começa a tirar os Titãs do seu pequeno núcleo e colocá-los em um cenário maior. O Dr. Luz fica incomodado de ter virado saco de pancada de todos os heróis e de perder espaço até para tolos como o Charada. É então que ele decide voltar às origens e só ser um ladrão comum. Só que ele não contava em roubar uma exposição cujo curador é Carter Hall, o Gavião Negro. E de despertar avatares de Vishnu, um deus indiano. E os avatares querem matá-lo a todo custo por terem perturbado seu sono milenar. Luz enxerga a Torre Titã ao fundo e se dirige para lá para pedir ajuda dos heróis. É o fundo do poço, né? A história rende bons momentos e Wolfman trabalha o quanto a equipe conseguiu desenvolver uma ótima coesão. Mesmo com os inimigos sendo mais poderosos do que eles, os personagens conseguem fazer frente à ameaça.

De certa forma "Queridos Papai e Mamãe..." é uma prévia do que viria a ser as próximas quatro edições. Nela Wally West reconta uma semana na vida dele como um Titã e em como ele concilia as ameaças de vilões com ser um estudante universitário. Desde o volume anterior que Wally está em um forte processo de questionamento e amadurecimento interno e aqui ele discute como é a sua convivência no grupo, aqueles que ele gosta e aqueles que não se dá bem. Inclusive ele reflete um pouco sobre seus sentimentos a respeito de Ravena, algo que voltará a ser abordado mais adiante. No meio disso tudo temos o aparecimento de um vilão chamado Interruptor que tem o poder de interromper coisas. Parece um poder besta, mas pense em como o Mutano se sentiu quando o inimigo interrompeu o seu batimento cardíaco. O vilão é bastante imaturo porque ele apenas está tentando impressionar seu pai, um homem duro e abusivo. Nessa edição se discute o valor da família e como podemos construir um grupo de amigos que vão funcionar como nossos irmãos e irmãs. Pessoas com quem nos sentimos à vontade por mais que por vezes a gente discuta com eles. Wally não é perfeito e muito menos os Titãs. Cabe a Wally encontrar um meio-termo e descobrir o quanto ele se importa com cada um deles.

E aí chegamos nas edições especiais sendo a primeira a do Ciborgue. Vemos a difícil vida de Victor Stone ao lado de um pai obcecado com seu trabalho. A ponto de manter o filho em uma redoma e prepará-lo para se tornar um gênio. Só que ele nunca preparou Vic para fazer parte do mundo. Quando Vic descobre amigos e todo o resto, ele percebe o quanto seu pai o privou de uma série de coisas. No meio da narrativa, Wolfman insere algumas discussões sobre preconceito étnico nos EUA, mas de uma maneira bastante incipiente e superficial. Vic não almeja se tornar um defensor dos direitos dos negros e até foge pela tangente em algumas oportunidades. E isso não significa que Vic é um alienado, mas apenas porque ele não compreende os problemas por ter vivido tão alheio às coisas. Lógico que ele sabe o que é certo e errado e o personagem é confrontado com algumas decisões morais importantes. Nos deparamos com a relação de Vic com seu pai e sua mãe. Anteriormente ficamos mais no choque dele com seu pai, mas aqui conhecemos sua mãe antes do acidente. Uma mulher que o amava e que procurou ser a mediadora da relação entre dois homens que não se batiam. É uma narrativa um pouco triste já que sabemos que Vic acaba sozinho de certa forma e ele ainda não foi capaz de superar seu antigo amor, a Marcy, e nem a menina que conheceu recentemente, Sarah Simms. Vic é alguém que ainda está em uma jornada de auto-conhecimento.

Na segunda história, vamos conhecer mais sobre o passado de Ravena e de sua mãe no templo de Azurath. Sabemos que Ravena é alguém que faz o possível para conter a energia negativa do demônio Trigon, um ser com poderes incríveis capaz de destruir mundos inteiros em um piscar de olhos. A existência de Ravena é pautada por sua vida no templo onde ela foi treinada para suprimir suas emoções de forma a retirar o máximo de suas habilidades. O confronto diário com a influência de Trigon também é parte dessa rotina que exige muito dela. Todo o treinamento como empata e para manifestar seu ego espiritual a tornou uma mulher que não compreende bem as emoções. Curiosamente, uma empata capaz de definir e manipular as emoções alheias, não é capaz de compreendê-las. Nem mesmo a si mesma. A luta contra Trigon ainda não terminou e essa é a semente que Wolfman planta nessa história. Esta é mais uma personagem em busca de conhecer a si mesma já que ela não tem qualquer experiência em viver ao lado de outras pessoas. Ravena não é estranha porque quer, mas porque viveu toda sua vida em um ambiente onde estar com os outros era uma tentação a ser aproveitada por Trigon. Onde qualquer dissabor ou tristeza poderia ser aproveitada pelo inimigo. Ao final da história, a pergunta que fica é se Ravena se deixará abrir para o mundo e ser mais vulnerável a Trigon ou manter-se encerrada em si mesma e continuar solitária.

O capítulo do Mutano é sensacional porque assim como as outras histórias são narradas por Ciborgue, Ravena e Estelar, esta é narrada por nosso querido herói esverdeado. E uma coisa que aprendemos no arco que envolveu Zahl e a madame Rouge é a nunca confiar no espírito alegre do personagem. Ele esconde dores incríveis, fruto de situações tristes vividas por ele no passado. O que é possível perceber é que Mutano nunca parece estar no controle de seu próprio destino. Em várias situações, Gar parece estar no banco do passageiro enquanto outros o usam ou abusam. Wolfman usa um recurso muito interessante que é o de mentir nas cenas do passado do personagem. Enquanto Mutano está narrando uma coisa, Wolfman nos mostra outra. Tem um momento em que Gar comenta que saiu do mundo do show business e foi morar em sua mansão onde realizava festas sem fim regadas por muitas lindas mulheres. Ao fundo Perez desenha um personagem seguindo solitário rumo a uma casa caindo aos pedaços e Gar ligando para uma série de amigas que não desejavam mais falar com ele, agora que não era mais famoso. Gar é uma pessoa doce e gentil que sofreu inúmeros abusos físicos (por parte de Galtry, o seu tutor) e da sociedade em si, que é incapaz de compreender que ele é mais do que sua aparência esverdeada.

A última história é a da Estelar e que história doída demais. Ela é alguém que sofreu muitos abusos durante sua adolescência em que se tornou escrava de sua irmã Komand'r e dos membros da Cidadela. Wolfman trabalha mais a sociedade tamarana nos mostrando o quanto o planeta é pacífico e eles são amantes de seus sentimentos de uma maneira extrema. Pacíficos, amorosos e guerreiros. Só que desde pequenas, Koriand'r e Komand'r eram rivais. Isso porque Komand'r nasceu com uma deficiência, mas escolheu odiar sua irmã. Em diversos momentos vemos que Kory poderia ter escolhido ceder à raiva e ao ódio por sua irmã e decidiu dar a outra face. Ajudá-la. Amá-la. Dar uma nova oportunidade. Wolfman é sábio ao não mostrar os momentos de humilhação moral e física da personagem para não tornar isso um espetáculo desnecessário. Sabemos que a personagem foi usada em todos os sentidos possíveis da palavra, bastando apresentar uma cena simples insinuando o que pode ter acontecido com ela. No fundo, Kory é somente uma menina que precisa ser amada. Que teve uma vida difícil e não cedeu aos sentimentos negativos e que conseguiu, apesar de tudo e de todos, manter sua inocência, mesmo tendo perdido parte dela no processo.

Uma bela edição com muitas e muitas informações. Não cheguei nem na ponta do iceberg ao comentá-la aqui. Garanto a vocês que a série de Wolfman e Perez só melhora desde o volume passado e estamos prontos para viver essa vida louca ao lado dos nossos queridos personagens. Queremos ver o que eles farão a seguir. A arte do Perez está em um nível fantástico e algumas de suas composições são dignas de posteres. Ele tem o domínio completo da maneira como constrói cenas, espaços, o design de seus personagens e como brincar a partir daí. Uma verdadeira aula de composição gráfica que recomendo a qualquer um pegar e conferir. Vale cada centavo.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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Bia⨠19/08/2021

Gostei
Realmente a edição número 4 não me agradou muito, mas é mais por uma questão de gosto pessoal.
Amo os Titãs e ter essa edição é muito importante
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Léo 31/03/2019

Obrigatório para qualquer fã
Finalmente cheguei ao 4° volume dessa série dos Titãs, e já estou com saudades.
Essa edição segue de onde a anterior parou, com as edições 19 e 20 originais da década de 1980, e em seguida possui 4 edições de uma minissérie chamada Contos dos Novos Titãs, contando a origem dos integrantes. Confesso ter ficado decepcionado quando soube que seria assim, pois estava ansioso pelas edições 21 até a 25 onde teríamos Irmão Sangue e Estrela Negra, mas ainda assim a edição está maravilhosa como sempre.
Na primeira história temos uma trama em que o Irmão Sangue se liberta da cadeia e acaba revivendo 4 antigos deuses da Índia. Essa trama conta com a participação especial do Gavião Negro. Na segunda, é uma história em que Wally, o Kid Flash, escreve uma carta para seus pais contando de um recente inimigo dos Titãs ligado a Colméia.
Em seguida temos os Contos dos Titãs, em que os personagens passam umas férias acampando no Grand Canyon e aproveitam para se conhecer mais. O primeiro conta a história de Victor, o Cyborg. Mostra como o rapaz sempre teve uma infância de relação complicada com os pais, se envolveu em amizades perigosas, aborda racismo e o acidente que o transformou no herói que é.
Em seguida é contada a história de Ravena, de seu nascimento sempre significou perigo, de sua complicada infância em Azurath, de como a jovem sempre foi treinada para controlar suas emoções, além de seu primeiro contato com seu pai Trigon.
A terceira é a história de Garfield, o Mutano. De como ele ganhou seus poderes, e como perdeu seus pais e fez parte da Patrulha do Destino, dos Titãs, e de sua carreira como ator. A história é divertida, por Mutano contar as coisas um pouco diferente do que aconteceram para se gabar.
Por último, a história de Koriand'r, a Estelar. A história foca na infância da heroína em Tamaran, principalmente na convivência com sua irmã Komand'r, de como Estelar sempre foi criada para ser uma guerreira e como sua vida foi cheia de tragédias causadas por sua irmã.
As tramas são incríveis, pois é bom conhecer o passado de cada um dos heróis, obrigatório para qualquer fã.
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