Rafa Malvezi 29/08/2022
Ótima premissa, porém com desenvolvimento confuso
A HQ se destaca por ser baseada no jornalismo investigativo e por, seguindo esse raciocínio, ter a verdade como centro da narrativa. A promessa de mistério e desdobramento da investigação empolga e a arte também ajuda a dar o tom sóbrio e sombrio da história, ambientando o leitor em um cenário instigante.
Mais do que isso, Lois Lane é uma personagem digna de protagonismo e foi retratada à altura nesta história, que acertou ao não deixá-la à sombra do Superman. O relacionamento dos dois é bem explorado, mas o homem de aço é apenas um personagem secundário, como deveria ser neste caso.
Aliás, os relacionamentos de Lois são um ponto forte do roteiro: podemos ver como ela lida principalmente com sua reputação, seu marido, seu pai, seu filho, seu editor no Planeta Diário, suas fontes, seus algozes, e com Renee Montoya, que é praticamente seu braço direito nesta história (o que reforça a ideia do protagonismo feminino deste quadrinho).
No entanto, a trama vai perdendo força e se torna confusa por conta de muitas referências externas de outras histórias do universo da DC (o que é ruim para o leitor casual, que não está a par do repertório); e por abandonar a investigação inicial, ligada à corrupção nas instâncias nacionais e internacionais de poder, mudando completamente o foco da história, em determinado ponto, para a teoria do multiverso e suas implicações.
É possível compreender a história, mas é inevitável se sentir perdido em diversos momentos, especialmente do meio para o fim - o que me pareceu uma mudança editorial forçada e desnecessária.
A leitura, entretanto, tem momentos brilhantes e vale a pena pelo protagonismo de Lois, pela exploração de seus relacionamentos com outros personagens, pela priorização de figuras femininas na história, pela abordagem da relação das pessoas com a verdade e com os fatos, pela menção crítica a problemas reais (como corrupção, sexismo, situação de imigrantes nos EUA, relação com a mídia, etc) e pelo roteiro assertivo em relação ao modo de fazer jornalismo, o que torna a trama interessante na primeira parte da HQ (antes de toda a confusão com as linhas do tempo e a fragmentação de personagens).
Vale mencionar também que, apesar da bagunça no enredo, o texto do desfecho é bem amarrado com a narrativa central sobre a verdade, o que dá a sensação de conclusão.