As Lições de Metafísica de Kant apresentam a articulação do ensino filosófico nas universidades alemãs no fim do século XVIII, mas também a difícil tradução, em termos de didática tradicional, das profundas inovações que a reflexão kantiana jamais havia elaborado. Da metafísica se retrocede à ontologia e a ontologia, por sua vez, é entendida como teoria geral das condições das possibilidades dos objetos do conhecimento. A sua existência escapa a toda demonstração, é posição absoluta, envento indedutível, fronteira instransportável para o intelecto. A metafísica é recuperada entre outras bases como necessidade teológica da razão sustentada por um interesse prático irrenunciável. De uma ¨filosofia escolástica¨(como usual nas escolas) passa-se a uma ¨filosofia cosmopolítica¨, isto é, uma filosofia apta a formar ¨o cidadão do mundo¨ no âmbito de uma finalidade intrínseca à natureza racional do homem e da realidade completa. Os temas deste ensinamento de uma metafísica em crise, e contudo postulada, fazem pensar ainda hoje, embora a razão tenha perdido a rigidez kantiana e a filosofia seja eivada de problemáticas existenciais que Kant reconhece, mas as mantém estranhas à argumentação especulativa.