Reflexões sobre a guilhotina

Reflexões sobre a guilhotina Albert Camus


Compartilhe


Reflexões sobre a guilhotina





Em Reflexões sobre a guilhotina, ensaio inédito no Brasil do vencedor do Prêmio Nobel, Albert Camus, o autor demarca sua posição contrária à pena de morte. O livro ainda conta com um prefácio à edição brasileira escrito por Manuel da Costa Pinto.

Em 1914, o pai de Camus, descrito como um homem bom, comparece a uma execução pública. Após a decapitação do assassino, considerada por muitos uma pena "suave demais" por conta de seus crimes, ele volta para casa em choque, em completo silêncio, passa mal e vomita. Como essa "justiça" pode deixar um homem nesse estado?, questiona o autor argelino. O que há de errado com essa condenação?

Esse é o ponto de partida de Reflexões sobre a guilhotina, ensaio em que Camus, um dos mais importantes pensadores do século XX, discute a pena de morte, em especial a morte na guilhotina. Para tanto, ele tece críticas a qualquer argumento em defesa da pena capital. Para Camus, numa sociedade dessacralizada não pode haver uma pena definitiva. Enquanto para a Igreja católica a pena de morte não é o fim – afinal, é provisória: o condenado é arrancado da sociedade, mas com chance de redenção no pós-vida –, na sociedade em que vivemos a pena capital é, sim, definitiva. É uma afirmação de que alguém é absolutamente mau enquanto a sociedade seria absolutamente boa, e coloca o juiz no lugar de Deus.

Além disso, Camus argumenta que, para se acreditar que a morte na guilhotina teria um caráter exemplar, seria preciso partir do pressuposto de que a morte de um criminoso condenado num processo judicial, sujeito a falhas, impediria crimes que poderiam nunca ser cometidos. Ou seja, mata-se uma pessoa por uma hipótese.

Camus percebe a pena de morte como nada mais que uma lei de talião da sociedade – um "olho por olho". E vê nela uma contradição: como pode uma lei responder a um instinto natural quando o papel da legislação é justamente inibir os ímpetos mais animalescos da humanidade? Em sua análise, o Estado e a sociedade, mais que cúmplices, são responsáveis por essas mortes; Estado este que mata o indivíduo condenado à morte duas vezes: uma quando o condena e o faz viver com a expectativa do fim; outra quando de fato dá cabo à sua vida.

A última morte por guilhotina na França aconteceu ainda no século XX, em 1977. O autor de grandes livros como O estrangeiro, A peste e O mito de Sísifo apontou as contradições dessa prática em 1957 em um contexto muito específico da França, mas seus argumentos reverberam ainda hoje em nossa sociedade.

Ensaios / Literatura Estrangeira / Não-ficção

Edições (1)

ver mais
Reflexões sobre a guilhotina

Similares


Resenhas para Reflexões sobre a guilhotina (5)

ver mais
Literal e preciso
5 days, 8 hours ago


Este livro entrega o que promete, se o leitor/a esperou outra coisa, não soube interpretar o título. Muito curioso perceber que pessoas tiveram que argumentar, esbravejar e lutar por coisas que hoje em dia estão absolutamente normalizadas. Se nota que o Albert Camus escreve desde um lugar de debate, algumas vezes alterado. Provavelmente um debate complicado na época, mas que felizmente hoje em dia, na maior parte do mundo já não precisamos lutar por isso: a pena de morte, especificam... leia mais

Estatísticas

Desejam18
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 4.3 / 70
5
ranking 55
55%
4
ranking 35
35%
3
ranking 6
6%
2
ranking 3
3%
1
ranking 1
1%

43%

57%

Jenifer
cadastrou em:
10/02/2022 22:02:57
Jenifer
editou em:
02/06/2022 12:16:49