Religião, astrologia e magia ajudam o homem a enfrentar momentos difíceis, ensinando-o a evitar as desgraças ou, pelo menos, dando uma explicação para elas. Numa época de muita pobreza, muitas doenças, medicina precária e desgraças súbitas - como a Inglaterra dos séculos XVI e XVII - essas crenças desempenhavam um papel essencial na sociedade como fonte de alívio material e meio de explicar infortúnios de outra forma incompreensíveis. Neste livro erudito e fascinante, Keith Thomas examina minuciosamente a função de astrólogos, curandeiros, adivinhos, bruxos, profetas e o sistema de crenças relacionadas que permeavam toda a sociedade inglesa, embora tivesse presença mais marcante entre as classes populares. Nesse terreno controverso e, com freqüência, pantanoso, o autor constrói uma obra de rigor exemplar, que desfaz mitos, põe por terra interpretações que pareciam corretas, desentranha relações complexas e vai fundo em cada aspecto estudado, sempre fundamentado em uma documentação impressionante e fazendo uso de interpretações esclarecedoras, como as da antropologia contemporânea. Ao mesmo tempo, traz à vida personagens cativantes, algumas obscuras, cujas histórias estavam perdidas em arquivos judiciais, e outras de astrólogos famosos, que chegaram a alcançar notoriedade e deixaram seus livros de casos para a posteridade.
Algumas das crenças aqui descritas parecem-nos completamente estranhas: acreditava-se, por exemplo, que um toque de mão do rei curava doenças, ou que uma pomada aplicada numa arma ajudava a sarar o ferimento que ela provocara. Outras nos são mais familiares, pois extravasam do local e da época para continuarem presentes de alguma forma no mundo de hoje. O próprio autor nos adverte que, embora a importância da magia tenha declinado no final do século XVII, ela não desapareceu, nem vai desaparecer: "Se a magia for definida como o emprego de técnicas ineficazes para mitigar a ansiedade quando as eficazes não estão disponíveis, então devemos reconhecer que nenhuma sociedade jamais estará livre dela".
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