Resenhas - Revista O Cruzeiro (Ano XXXVIII - Nº 42 - 20 de Julho de 1966)

z..... 13/07/2019

De volta ao quarto de despejo
Li apenas a parte referente à Carolina Maria de Jesus. Nota em uma página, com texto curto, impressionando pelas duas imagens que trouxe: Carolina de volta às ruas, com sua sacola de catadora de papel; na outra, comendo pão duro, sentada à beira do caminho... Algo melancólico, diante do glamour em vários destaques que a mesma revista deu a singular escritora... O ano era 1966, seis anos depois do badalado lançamento de 'Quarto de Despejo'...

Um trecho da revista:
"...A glória, a enganosa glória, um dia a abandonou. E Carolina voltou ao pó. À miséria e à favela. Outra vez na rua, em São Paulo, junto ao saco de papeis, ela morde o pão duro e seco, e filosofa: 'o mundo é um salão de baile onde dançamos a música chamada vida. E não acertamos o passo.' E queixa-se dos homens: 'Jesus Cristo deve ter levado péssima impressão da humanidade!' Mas se consola: 'São Francisco de Assis também foi rei e depois sofreu. Sou como o chumbo maleável, sempre me adapto. Quem não tem sapatos para andar, que ande descalço. Assim é a vida..."

Não sei se a Literatura no país teve exemplo similar, mas a história de Carolina é impressionante. Fico abismado também ao lembrar, como alguém que sempre gostou de leituras, que nunca tinha ouvido falar nada sobre ela, seja nos meus livros escolares de Literatura ou por informação de qualquer professor da área. É uma literatura marginalizada, feia... Será esse o sentido real? Sobretudo impactante, verdadeira, autêntica, reveladora, incomodotativa... por essas e outras, olvidada...