Rute (Mulheres da Bíblia)

AO ENTRAR NA EIRA

O tempo adormeceu, mas as pálpebras não se fechavam numa espera paciente da aurora. Os relógios do tempo pararam. A fria madrugada respirava atenção e benevolência. Pelas frestas da janela, eles divisavam o céu imenso, infinito. A luz macia da lua descia sobre eles e filtrava uma claridade suave e amiga. A consciência ficou espiando e o azul bem escuro da noite docemente os contemplava.

Como posso negar a luz que me trouxe a Belém? Para que esculpir mágoas a vida inteira por um só momento de irreflexão e descontrole? E depois ter de disfarçar o rosto oxidado em mentiras, e depois exilar-me longe das asas do Eterno, e depois de ter encontrado tudo percorrer os corredores do nada? Como olharão para duas estrelas que gravitavam juntas, agora despencando de sua órbita, desgovernadas e perdidas pelo espaço infinito afora, onde tudo não quer dizer mais nada?

Essas cogitações circulavam na formosa fronte, fazendo latejar as artérias, quando Boaz acorda sobressaltado. Seus pés flutuavam em nuvens, aquecidos por trinta e sete graus de beleza pura. Estava a seus pés um presente de Deus.

O Laudabilíssimo guardava duas constelações nas palmas compassivas e onipotentes. Da placenta invisível do Universo o Glorioso Soberano fazia refulgir dois heróis que inspirariam os fiéis em todos os milênios. Os meteoritos do pecado não conseguiram esmagar as virtudes celestiais.

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