Santo Dia

SANTO DIA, da carioca Lilian Fontes, é uma novela que se passa em um único dia, dentro de um apartamento. Para aumentar o clima claustrofóbico, o personagem principal não aparece na ação. Joca é uma sombra, uma ausência. "Joca é um sujeito que não se consegue descrever propriamente, é um ser virtual, fugidio", explica a autora. Não existe narrador e o personagem vai sendo construído a partir dos depoimentos de todos os outros envolvidos: ele está sendo acusado de ter estrangulado uma americana, o que acaba mergulhando o leitor nas diferenças entre a justiça brasileira e a justiça norte-americana. A morta é Kate Burgison, uma americana de 47 anos, residente no Rio, enforcada no lustre de seu quarto. Suicídio? Não, pois suas mãos estavam mutiladas. O culpado? As primeiras suspeitas recaem sobre Joca, um carioca de 36 anos que conheceu Kate através da internet - o que leva as autoridades pretensamente competentes a desconfiarem logo de uma queima de arquivos envolvendo traficantes internacionais de drogas ou hackers dedicados a atos de terrorismo contra a economia mundial ou, ainda, espiões biogenéticos. Lilian Fontes prende o leitor numa armadilha literária: SANTO DIA é construído no sentido de se descobrir se Joca é ou não culpado daquele crime, mas no final uma revelação fundamental se descortina. Apesar dos elementos de suspense, o livro não é um policial dentro do que entendemos como gênero noir. Nada de mulheres fatais, inspetores de queixo-duro e moral duvidosa, ou policiais corruptos. A idéia de SANTO DIA era criar uma história com uma protagonista feminina, de 40 e poucos anos, casada, bem-sucedida profissionalmente, tentando estabelecer uma relação desta mulher com o mundo que a cerca. "No entanto, parece que a narrativa foi me levando para uma estrutura policial", argumenta Lilian.