Se essa rua fosse minha

Se essa rua fosse minha Fabiana de Almeida Anjos


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Se essa rua fosse minha


moradores de rua: sobre a (des)valorização de si




Como costumo dizer, o prefácio é mais um texto invertido, no sentido de que ele não é escrito antes, conforme aponta a etimologia da palavra (pre-facio), mas depois de o texto principal já estar redigido. No caso em questão, vale lembrar que a autora, Fabiana Anjos, hoje mestra pela Unicamp, revisita e nos faz revisitar uma pesquisa que foi realizada ainda na etapa de graduação, quando eu, orientadora da monografia, e outros orientandos de Doutorado fazíamos nossas pesquisas, tendo como participantes pessoas em situação de rua, muito comumente denominadas por elas próprias (mas não só) “moradores de rua”.
[...]
Fabiana se sentiu tão envolvida por esse tipo de apelo social a ponto de dedicar mais de um ano de seu curso de Letras para a elaboração da pesquisa, que evidentemente, engloba uma análise da linguagem que constituiu a fala dos participantes, num contexto preciso e delimitado que fazia e faz do que diziam um acontecimento reconhecido por uma escuta interessada e pela valorização das narrativas de vida, que ganharam relevância incomum numa pesquisa fundamentada. E, para além da análise, é preciso lembrar da etapa nada simples da escrita da monografia que finalizaria o curso superior e a levaria à defesa pública.
Assim, situando seus estudos na perspectiva discursivo-desconstrutiva, problematizadora ou questionadora de tudo o que parece naturalizado pela cultura, pelo meio social em que se vive - sempre pronta a cobrar atitudes, comportamentos, de acordo com os valores por ela estabelecidos, ancorados em certezas -, a pesquisa que se relata nesta obra se insere no Grupo de Pesquisa “Vozes (In)fames: exclusão e resistência” registrado junto ao Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, sob minha coordenação geral, uma vez que se acha comprometida com os sem fama (in-fames), os excluídos, discriminados, incompreendidos, indefesos...
Não que eles não possam ou não saibam se defender, pelo contrário, se eles resistem, é que têm os argumentos válidos para a sua defesa, só precisam ser ouvidos, ter voz, ser (a)creditados, portanto, respeitados, compreendidos nas dificuldades por que passam, nas injustiças que sofrem, na falta de oportunidades que lhes são oferecidas, no desamparo em que se encontram. Só assim, compreendidos, é que conseguirão forças para investirem na própria vida, largando tudo o que tolhe as suas ações, tudo o que os impede de lutar por eles mesmos. Mas, sabemos que isso não é fácil e que não depende unicamente deles, mas de toda a sociedade e das políticas públicas, que, infelizmente, não existem e, se existem, são precárias, colocam-nos no ostracismo, em vez de lhes oferecer oportunidades de empregos dignos.
[trecho do prefácio, de Maria José Coracini]

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