Senão eu atiro e outras histórias verídicas, de Leusa Araujo, traz seis contos marcados por precisão descritiva, personagens de comportamentos perturbadores e desfechos imprevistos em histórias construídas a partir da experiência pessoal da autora e de casos judiciais.
Leusa Araujo constrói seus contos com linguagem coloquial e uma dicção seca, usando como técnica principal de narração os diálogos desconcertantes e os fluxos de pensamento que mergulham na interioridade dos personagens, o que favorece o sentimento de solidão e aridez presente dos textos.
A matéria escolhida para as narrativas tampouco permite alívio: um suicídio malsucedido (“A gorda que caiu do céu”); paralisia do sono (“Experiências extracorpóreas”), a virulência letal de um pintor (“Senão eu atiro”); o desamparo e a hipocrisia das relações (“A mendiga do Macuco”); as tensões sociais no retrato de uma paixão adolescente (“Daiane”).
O conto que fecha o volume (“Iracema”) faz um triste, porém belo, contraponto: um filho que está prestes a perder a mãe revira o baú da família e reencontra relíquias há muito esquecidas, como álbuns de fotografia e livros.
Contos / Literatura Brasileira