Em Sete domingos por semana, seu primeiro livro de contos, Aliedson Lima nos apresenta uma obra de múltiplas camadas, que ora está em “220V”, ora em “110V”, como nos indica a divisão dos contos em duas partes.
A primeira parte do livro, que contém, entre outros, os premiados contos “O último adeus a Kafka”, “Alevinos” e “Canivetes”, parece nos apresentar textos que estão fortemente ligados a experiências pessoais do autor, recriadas pela linguagem poética e ao mesmo tempo atual com que ele constrói os seus textos.
Na segunda parte do livro, o foco de interesse do autor está na construção de personagens e situações às vezes dramáticas, às vezes críticas, às vezes engraçadas, ou mesmo tudo isso junto, estabelecidas ocasionalmente sem a necessidade de um narrador, como acontece no conto “A serra de santo André”.
A familiaridade do autor com as técnicas literárias contemporâneas, que prezam por uma maior liberdade criativa, permite-lhe construir narrativas que parecem flertar de perto com gêneros como o poema em prosa, o relato pessoal e a crônica.
Indo na contramão das narrativas épicas, com enredos que vão desde uma interessante analogia em que o narrador se sente Deus diante de alguns peixinhos (“Alevinos”) a uma personagem feminina consumida pelos ciúmes e pela dúvida sobre uma mecha de cabelo que seu namorado guarda numa caixinha de vidro (“Caso da mecha”) e até um excêntrico professor que, ao se manifestar veementemente contra a poesia em suas aulas, faz seus alunos se aproximarem dela pouco a pouco (“O professor Nicanor”), Aliedson Lima reflete sobre a condição humana a partir das pequenezas cotidianas, e com elas dialoga filosoficamente, fazendo-nos um saboroso convite à poesia, ao humor e ao desencanto.
- Ricardo Santos (professor e escritor)
Contos / Literatura Brasileira