Silêncio e interdito

Prefaciar uma obra cujo tema central é o silêncio e o interdito, termos que podem ser analisados isoladamente ou em conjunto, observando as consequências de um sobre o outro, constitui um prazer a mais, já que se trata de uma temática atemporal, no sentido de que sua importância não se restringe ao momento atual, mas remete também ao passado, próximo ou longínquo, de qualquer sociedade, mas sobretudo de sociedades emergentes ou de terceiro mundo, em que o poder vigente, legitimamente constituído ou ilegitimamente construído, se impõe, de modo soberano, sobre os grupos sociais, silenciando as vozes contrárias aos seus desígnios.

Mas, a importância da temática se deve, mais do que tudo, à pluralidade de contextos em que o interdito que silencia se faz presente: na política, na família, na escola, nos grupos de amizade, alguns dos quais se encontram muito bem analisados e abordados neste livro. Aliás, o interdito é constitutivo da subjetividade na medida em que é fruto da castração, da impossibilidade de realizar o gozo edipiano, sem limites, do incesto proibido e aniquilador, como postula a psicanálise freudo-lacaniana. Somos, portanto, constituídos pelo interdito desde que nos tornamos sujeito.

Mas, não é apenas desse interdito constitutivo que nos faz sujeitos barrados, impossibilitados de atingir a completude e o gozo supremo, que se trata. Quando se fala em interdito, pensa-se imediatamente em algo probido, em silenciamento; a palavra ou outro meio de comunicação são proibidos por alguém ou por um sistema político-social em determinadas circunstâncias. O direito à livre expressão, à palavra sem coerção, à expressão de opinião é uma prerrogativa de sistemas político-democráticos que respeitam os cidadãos e concebem a crítica como um bem legítimo na conquista da justiça e do bem comum.

Nesses contextos, não há espaço para os interditos, ou melhor, para a censura, isto é, para os dizeres entre, para os dizeres que se posicionam entre outros dizeres, silenciando e oprimindo.

(Trecho do Prefácio de Maria José Coracini)

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