Por Andrea Franco
Faço aqui um convite à seguinte reflexão: o que é essa Ordem Estabelecida senão um grupo de pessoas que se acham no direito de julgar, criticar, ofender, discriminar, pisar? E, sendo assim, dá para levar a sério esses “pseudoguardiões da ordem?”
O livro de Valdeck Almeida dá um chute no preconceito, um “passa fora” no conformismo e uma porrada na hipocrisia velada que impera em nossa sociedade heteronormativa. Enrustidos, tremei! Hipócritas, calai-vos! Falsos moralistas, preparai-vos! “Santinhos-do-pau-oco”, cuidado! Com “doses cavalares” de sinceridade, coragem e ousadia, Valdeck nos apresenta relatos que traduzem a verdade nua e crua das experiências – e das tentativas de felicidade – de um ser humano que quer mostrar o quanto é importante sermos honestos conosco mesmos e com as nossas escolhas! E o quão devemos estar preparados para as consequências. Aliás, mais honesto impossível! E o autor foi transparente, intenso, ousado, corajoso, perspicaz, sensual, apaixonado... E “arretado”!
O teor de seus relatos - bastante fortes, diga-se de passagem - não tirou a dignidade, o caráter e a sensibilidade desse ser humano que pretende mostrar a sexualidade como ela é: complexa, porém necessária e vital, pois, como dizia Caetano: “toda forma de amor vale a pena”. E já que vale a pena, vamos dar uma rasteira nessa gente que finge que não vê uma realidade que pode estar bem ali a seu lado, na sua cama. E Valdeck expôs, nesta obra, a sexualidade, sem reservas, sem frescuras, sem “não-me-toques”. E essa mesma forma de amar não deve ser motivo de constrangimento, nem tampouco ser confundida com sem-vergonhice ou desmoralização. Não adianta julgamentos, queridos. É a vida como ela é.
O autor não se faz de coitadinho, nem de vítima sofredora. Ao contrário, é um ser humano que viveu com intensidade e que assumiu riscos e fraquezas. E agora grita por respeito e pela defesa de seus princípios, afirmando veementemente seus valores, que estão impressos em cada página.
Uma grande demonstração de sensibilidade se faz presente na ligação que Valdeck faz de suas experiências de vida com a descoberta e a importância da arte em sua caminhada. É tudo muito inspirador e comovente! O “construir castelos”, o encontro consigo mesmo, o embate com suas emoções e reflexões, o “apaixonar-se por si mesmo”, o ato de olhar para dentro de si e se encontrar, e se reconhecer forte e guerreiro!
* Andrea Franco é jornalista no Rio de Janeiro. Autora do livro “Por que toda mulher precisa de um gay em sua vida”