A figura de Simão Pedro sempre atraiu a atenção dos que se debru-
çam sobre os Evangelhos. A sua psicologia nos seduz e nos escapa, e
algumas das suas atitudes nos desconcertam. Que terá Cristo pressen-
tido nele ao confiar-lhe o primado entre os Apóstolos?
Georges Chevrot enfrenta esse problema buscando traçar do Prín-
cipe dos Apóstolos um retrato de corpo inteiro, A sua rara capacidade
de penetração dos espíritos, as suas originais observações a respeito de
episódios já muito conhecidos, a sua finura interior e a convincente
reconstituição psicológica dos fatos, fornecem-lhe o método para des-
vendar a personalidade de Simão Pedro. Não segue um critério aprio-
rístico, nem se prende a qualificações sumárias das atitudes. Penetra
nelas com delicadeza e prudência, e sobretudo com a perspectiva de
quem se dispõe a captar as linhas mestras de uma vida inteira, com
as sinuosidades próprias do existir humano. Daí resulta uma aprecia-
ção que, ao sabor dos diversos episódios evangélicos cujo protagonista
principal é o Apóstolo, tem o poder de sugestão próprio da verdade
psicológica e vital.
A conclusão que se desprende destas páginas é que as vicissitu-
des de Simão Pedro representam as vicissitudes do homem que sente
o chamado do ideal, mas paga o tributo de suas fraquezas pessoais,
ainda por dominar. Nesse sentido, bem podemos reconhecer-nos nele:
a biografia de Simão Pedro retrata o itinerário espiritual de numerosos
cristãos do nosso tempo. Daí também a atualidade plena deste estudo,
em que as vozes do sangue e do espírito se misturam, em que os cla-
ros e os escuros se alternam, em que os princípios são cristalinos, e as
realidades nebulosas. Chevrot, relatando a vida do Apóstolo, dirige-se
à nossa experiência pessoal e lança uma luz reveladora sobre o misté-
rio da natureza humana. E sobre esse pano de fundo de aspirações e
fraquezas, ressalta poderosamente a comovente confiança que Deus
tem nos homens.
História Geral / Religião e Espiritualidade