Sociedade, conhecimento e interdisciplinaridade

Uma perspectiva interessante sobre o complexo tema da interdisciplinaridade é interpretá-lo de um ponto de vista histórico. Um desenho sugestivo poderia ser o de que a cultura clássica, especialmente os trabalhos de Platão e Aristóteles, caracteriza um momento de transição entre um conhecimento pré-disciplinar e a organização das diversas disciplinas que iriam compor o quadro das ciências como as conhecemos hoje. Os gregos, nesse sentido, deram origem, no mundo ocidental, às formas especializadas de saber, que se estabeleceram como fundamento do ensino nas escolas e universidades ao longo da Idade Média. A evolução das disciplinas levou-as, modernamente, a um conhecimento sistemático, objetivo e preciso não atingível por reflexões espontâneas e heteromórficas. Mas a era do conhecimento científico específico abriria, contemporaneamente, uma nova perspectiva de relações transversais, multilaterais, intervenientes, entre outras, que marcam a interatividade dos modos de saber. O início do século XX talvez pudesse representar este período histórico extraordinário em que as disciplinas se encontram na riqueza das suas particularidades sem que percam a seriedade metodológica, o rigor e a objetividade das promessas disciplinares puras. De fato, intensificaram-se as relações entre a biologia e a química, entre a física e a matemática, entre a linguística e a computação. A interdisciplinaridade, hoje, é tão expressiva e forte que, pelo menos em áreas menos conservadoras, praticar-se-á, querendo ou não.