Som de clarineta (Coleção Identidade)

Um homem morre após ser atropelado por um carro que anuncia velórios, numa cidade do interior. No dia de seu sepultamento, moradores ociosos, reunidos num estabelecimento comercial, conversam sobre fatos que parecem triviais como aquele falecimento, romances envolvendo viúvas e mulheres maduras, a política e as práticas funerárias. À medida que o diálogo prossegue, vamos percebendo que todas as coisas estão relacionadas e que situações aparentemente banais deixam marcas na história da comunidade e provocam reflexões profundas.


"Estavam muitos homens na lanchonete das motocicletas, na praça central de Santa Lúcia, quando o rádio anunciou a morte e o horário do sepultamento de Davi Luna. Enfático, o locutor elogiou a viúva de Luna por ter acompanhado resignadamente o marido durante a sua convalescença.
Assunto indigesto aquele, pai de polêmicas, e elas logo apareceram como os marimbondos que também viviam por ali, atraídos pelos restos de lanches no lixo. Era uma manhã de calor. Os homens, aposentados, pilotos de mototáxi que faziam ponto no estabelecimento, vendedores de bugigangas das cercanias, marreteiros e outros frequentadores sem dinheiro, infestavam o lugar atrás de alguma pauta de novidades, compondo o mais severo e inútil dos parlamentos.
Helio Lirio, gerente e dono do negócio, que estava passando um pano úmido e imundo no balcão, disse lá do lado de dentro, rindo dentes tortos para o moleque ajudante à sua sombra e, depois, averiguando a clientela: (...)"


Este conto faz parte da Coleção Identidade. Saiba mais em www.amazon.com.br/colecaoidentidade

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