Micróbios são seres vivos os quais existem em abundância no planeta Terra sendo em sua maioria bactérias ou fungos. Apesar de sua presença em quase tudo do dia a dia, inclusive dentro de nossos organismos, seja em nosso estômago, boca ou pele, nós só conseguimos vê-los através das lentes aumentadas dos microscópios. Nesse contexto, para uma ansiosa adolescente de 16 anos a qual mora em Indianapolis, capital de Indiana nos EUA, eles tomam um tom muito mais assustador e maléfico, chegando a atormentar os seus pensamentos e atitudes diariamente e deixando a menina com a chamada misofobia, ou o termo mais comumente usado para a personagem, TOC. Estamos falando de Aza Holmes, protagonista de Tartarugas Até Lá Embaixo, livro com cerca de 269 páginas, escrito pelo famoso autor romântico, John Green e publicado em 2017.
Quando um homem bilionário é tido como desaparecido, duas grandes amigas, Aza e Daisy, decidem sair em busca de seu paradeiro a fim de conseguir uma tão estimada recompensa de 100 mil dólares àquele que auxiliar em sua captura. Essa aventura, na verdade, só tem início pelo fato de elas terem já uma vantagem sobre os outros procuradores, Holmes é uma antiga colega de Davis, filho do empresário desaparecido. Pela sinopse, pode-se ter como entendido estarmos falando sobre uma obra de aventura e investigação. Muito pelo contrário. A narrativa em primeira pessoa desenvolve-se por meio dos relacionamentos entre Holmes e as pessoas ao seu redor e principalmente, entre a menina consigo. Ou seja, trata-se de um livro o qual faz um estudo de personagem, destrinchando todas a inseguranças e se aprofundando no turbilhão de pensamentos incontroláveis de uma pessoa com hormônios a flor da pele e com problemas de ansiedade.
Green sai-se muito bem nesse ponto. A forma como os convívios são descritos é natural e intensa. Desde a irmandade entre Aza e Daisy até o início do romance da menina com Davis e a forma protetora pela qual a mãe a trata, em nenhum momento nos sentimos lendo algo artificial, as conversas chegam a ser táteis e isso facilita o apego aos indivíduos criados, a história é espontaneamente estabelecida, tornando-a magnética. Dessa forma, me alegro pela escolha do autor ter sido ir por um caminho muito mais introspectivo e filosófico do que a sinopse tende a fazer pensar, o foco narrativo torna-se o dilema pessoal de Aza e em como ela lidará com esse ápice de transtornos. O escritor, em um de seus vídeos sobre o livro (John Green também é youtuber nas horas vagas e tem um canal chamado vlogbrothers), diz sentir na pele o problema da ansiedade e do descontrole racional inclusive tendo sido prejudicado por essa situação durante meses, acredito ser essa triste circunstância um propulsionador da imersão. A verossimilidade dos medos e de como os pensamentos de Holmes tomam todo o seu cérebro a deixando avulsa das conversas e situações e à mercê de uma parte de si a qual não consegue controlar é algo extraordinário o qual dificilmente poderia ter sido escrito por alguém que não passou por essa situação. Como consequência, quase chegamos a sentir na pele todo o drama de uma prisão tão claustrofóbica. A prisão da mente.
Tartarugas Até Lá Embaixo é um livro incrível o qual auxilia a entender um pouco mais sobre as dificuldades de alguém com problemas de ansiedade, mas com certeza ele não se restringe a isso pois consegue desenvolver uma história cheia de relacionamentos reais e carismáticos em meio a um cotidiano muito bem criado. Vale a pena a leitura, vale a pena a reflexão.
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