Leia abaixo três poemas de "Tempo: poemas de uma vida esquecida", de Gabriela A. C. Marra:
a vida nas marés
o tempo nas águas
sou tempo que não pode ser medido
ando sem números
deixo correr
eu – leve
junto com tempo que tem tempo pra tudo:
cumprir tarefas, terminar trabalhos
faces distintas (tempo dos segundos e tempo
sem ponteiros)
se misturam na água, se diluem
flutuam
transitam
monstros e correntes
universo oculto
no oceano-casa repouso
imaginação
música e silêncio
sonho e fantasia
águas subterrâneas
passam
***
passam
águas
dor
o sentir
o vento daqui talvez seja o mesmo de lá
sopra
revolve o submundo
traz do fundo
a concha
a pedra
algas amarradas nos pés
vento levanta a areia
embaça o olhar
como uma dança na sombra
minha amada sombra
presença conhecida
oscilação
num ponto de luz
***
da solidão
sonho memórias
sonho inventado
um futuro impossível
sonho
águas preenchem as lacunas
afogam silêncios
refotografar...
cenas passadas
cardumes de palavras
perdidas
naufragadas no mar interior
um vinho rubro
para brindar esquecimentos
solidão
meu substantivo
Literatura Brasileira / Poemas, poesias