Diante de poetas como João Batista Martins é preciso perguntar o que é mesmo a gratuidade, o desleixo, a despretensão, a vagabundagem, tudo isso que se costuma ajuntar sob a tarja depreciativa de "lugar comum". Impossível não ver que por trás dessa textura, aparentemente fácil, um olho ri, uma coisa pensa, e então não há ingenuidade da parte de quem escreve, mas uma astúcia movimentada sempre com a intenção de fazer o leitor se afastar das palavras e descer ao sentido. Este se localiza abaixo daquelas, no térreo, mais, no porão, mais, na lama, num lugar de coisas esquecidas, sub-lugar, subconsciente?, talvez, se por isso se pode entender o ponto não-domesticado das idéias num corpo. Ao privilegiar o sentido em detrimento das palavras e, principalmente, ao pressionar o sentido em direção a esse sub-lugar, João Batista Martins, na linha de poetas como Leminski e Sebastião Uchoa Leite, aponta sua vocação "decadente", cumprimenta Corbière, Laforgue, e mostra e mostra o quanto esse sub-lugar -- o decaído em relação ao lugar oficial -- define a identidade não-autoritária, não-única, da poesia.