Na luta pela renovação do pensamento marxista, após décadas de enrijecimento dogmático, particular atenção tem sido consagrada ao reexame crítico dos temas do humanismo e da alienação, tratados com grande ênfase nos escritos do jovem Marx e deixados inteiramente de lado nas formulações teóricas do stalinismo. Logo se cristalizaram, em face desse problema, duas posições unilaterais: por um lado, há os que recusam a herança do jovem Marx como sendo idealista, negando a validade atual dos temas do humanismo e da alienação; por outro, situam-se aqueles que utilizam essa herança para minimizar o valor científico dos escritos da maturidade de Marx, em particular de O Capital. György Márkus — jovem filósofo húngaro ligado à Escola de Budapeste, formada pelos discípulos mais próximos de Georg Lukács — apresenta uma posição original no interior dessa polêmica. Ele não nega os pontos de ruptura existentes entre as várias etapas do pensamento de Marx; mas indica, ao mesmo tempo, a continuidade essencial que atravessa a trajetória do pensador alemão, continuidade assegurada pelo fato de que Marx sempre analisou as questões da vida e do conhecimento humano a partir de sua vinculação mediatizada com o trabalho em seu sentido econômico. Inserindo-se no coração de um dos mais fascinantes debates da ciência social contemporânea, o presente livro apresenta ainda um interesse suplementar: tornar mais conhecidas, entre nós, as idéias de Lukács e de sua escola, que formam certamente uma das mais fecundas correntes de pensamento do nosso tempo.
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