Terra dividida

Terra dividida Eltânia André


Compartilhe


Terra dividida





Óbvio, claro, indubitável que o texto de Eltânia André fala por si só sobre o talento inegável da autora. Mas custa nada palpitar aqui nesta página eterna deste inquietante-criativo Terra dividida. Eltãnia é mestra em frustrar o inacessível, o acaso, decodificando o insondável, desbastando os limites da imaginação; consegue descoser laços intrincados do cotidiano tirando proveito das miúdas existências de Naira e Eneida e Basílio e Nena e Almeidinha, assim por diante; há inevitável camaradagem entre ela, escritora, e a palavra: ambas se enrodilham em afagos mútuos; sensação de que Eltânia André vai montando suas histórias à semelhança de restaurador ceramista que junta os cacos de botija até que ela fique pronta-prontinha para acolher a mais borbulhante e cristalina de todas as águas do rio-rítmico - sim: com Eltânia cântaro canta. Sua voz literária única, arado que procura sempre rasgar chão ainda não cultivado, vai aqui, neste encantador livro, aos poucos, soltando lascas de certa encantatória árvore genealógica do encanto absoluto.
Evandro Affonso Ferreira

Em Terra Dividida, a escritora Eltânia André oferece ao leitor a possibilidade de se tornar coadjuvante num voo por temas contemporâneos bordados no couro da pele das personagens, uma delas, a antiga artesã de sapatos naturais. Na Pirapetinga, palco principal, o inferno das aparências reina desde antes da revolução digital e persegue e cria marca de ferro nos seus habitantes em termos existenciais. Personagens não aleatórios pertencem a uma família e suas ramificações, fazendo-nos lembrar de A Sibila pela grande escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís. A busca por Beatrice dispara a narrativa, resvalando em abismos já na abertura e preparando para o fim do que jamais termina verdadeiramente: um amor inebriado, a traição exposta e humilhante. Não é que o território, sobre o qual a gente se expõe, se divida com uma fissura na terra. O que encontramos nas páginas esteticamente elaboradas sobre o triângulo geográfico Pirapetinga, Rio de Janeiro e São Paulo, são mulheres e homens flagrados em suas rachaduras internas, cada qual como uma casa precisada de restauração. As divisões se insinuam nos percursos pessoais vivenciados em camadas sociais díspares, mas igualmente dificultosas. No mundo criado por Eltânia André, a vida não atravessa os personagens como atravessaria uma folha de planta. Esta vida em potência humana máxima, que atinge a todos como uma irrefreável força cósmica, corrói os corpos por dentro e aprofunda os desafios quando a
matriarca sui generis da família, a mulher espinha dorsal, vem a desfalecer em sua varanda-mirante, um observatório. A estrada-metáfora surpreende em seus contornos, ameaças absolutas e minúsculas miragens de esperança. Terra Dividida não é um livro baseado numa visão simplista em preto e branco. Desenrola-se na zona cinzenta e real onde “não se pode cutucar uma caixa de marimbondos e sair ileso” e tampouco “caminhar a passos tão largos” quanto os imaginados. Portanto, em Terra Dividida, revela-se o indivíduo, objeto de suas circunstâncias como dita Gasset, diluído por estatísticas ou pelo próprio destino de seu país, conforme vaticinado na filosofia de Bauman. O gato Getúlio será decisivo em suas reações e acompanha a sucessão de fatos como se estivesse ao pé do leitor.
Prefácio por Kátia Bandeira de Mello Gerlach

Ficção / Literatura Brasileira

Edições (1)

ver mais
Terra dividida

Similares


Estatísticas

Desejam
Informações não disponíveis
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 0 / 0
5
ranking 0
0%
4
ranking 0
0%
3
ranking 0
0%
2
ranking 0
0%
1
ranking 0
0%

0%

100%

Rose
cadastrou em:
21/04/2022 16:02:27
Rose
editou em:
21/04/2022 16:08:31

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR