The New Yorker Cartoons

The New Yorker Cartoons Sérgio Augusto


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Terapia




O cenário raramente muda: quase sempre, um consultório, com o analisando deitado num divã e o terapeuta sentado ao lado (ou atrás), apenas ouvindo ou fazendo anotações num caderninho. Desde Freud é assim. Ou assim já seria desde o tempo em que Édipo ainda não era um complexo, a julgar pelo vaso grego que Anatol Kovarsky desenhou para a última edição da New Yorker de 1956.



Ainda que diversos artistas (Whitney Darrow Jr., Chon Day, Mischa Richter, Frank Modell, Leo Cullum, Christopher Weyant, Peter Porger, Robert Mankoff, Victoria Roberts, Alex Gregory) tenham rompido com a canônica figura do analista calvo, de barbicha e óculos, o estereótipo costuma predominar nos cartuns da revista – mas não quando a sessão é confiada a um terapeuta do reino animal. Geralmente a um cachorro, cujo faro para os mistérios da psique parece desconhecer competidores entre os quadrúpedes.



Com duas pernas ou quatro patas, o terapeuta padrão dos cartuns da New Yorker fala tanto quanto ouve. Nem sempre de forma inteligível, abusando do jargão psicanalítico e complicando ainda mais a cabeça dos analisandos; dando, enfim, razão ao dramaturgo americano S.N. Behrman, que parece ter sido o primeiro a notar que o principal objetivo da psicanálise é fazer com que as pessoas bastante simples se sintam complexas. Mas certamente menos complexadas quando sacam que o analista não regula muito bem. Mankoff nos apresentou a um terapeuta dessa estirpe. O sujeito era tão assumidamente complicado que, por via das dúvidas, só atendia sua clientela deitado num divã, coladinho ao do

analisando.



Freud, Jung & cia. fi cariam horrorizados com o que volta e meia acontece nos consultórios da New Yorker. Não me refi ro apenas aos enfarados analistas que nem prestam mais atenção no que seus analisandos dizem, preferindo o som de um walkman (o iPod dos anos 1980), ou aos mercenários que só pensam em dinheiro, contando no relógio os minutos que faltam para a sessão chegar ao fim, mas sobretudo aos que não impõem limites, vale dizer, não reprimem seu instinto homicida, adotando catapultas e alçapões para mais rápida e eficazmente livrar-se de pacientes indesejáveis. Quando não os estrangulando, como se viu num desenho de Eldon Dedini, publicado em 1959.



Num cartum de William Steig, analista e analisando, mutuamente entediados, acabam se entregando aos braços de Morfeu. Melhor isso, sem dúvida, que surpreender o analista fazendo caretas para o analisando, como já aconteceu num cartum de Frank Modell. Algo parecido se passou numa das inúmeras gozações de Whitney Darrow Jr. à psicanálise e seus efeitos na alta sociedade nova-iorquina. Pioneiro no gênero desde os anos 1940, Darrow acompanhou a febre psi dentro e fora dos consultórios. Como viveu muito (por míseros doze dias não se tornou centenário em 1999), pegou até o frisson provocado pelo Prozac e outros antidepressivos que viraram moda no final do século 20.



No divã os adultos são maioria absoluta. Adulto é modo de dizer; alguns nunca deixaram a adolescência ou mesmo a infância. Paranóicos, edipianos, maníaco-depressivos, hipocondríacos, pantofóbicos, escatológicos, ladrões de identidade – quase todo o espectro da psicopatologia está representado nesta coletânea. Com pelo menos um adendo insólito: a múmia de um faraó, quem sabe uma homenagem ao apreço de Freud por quinquilharias do Antigo Egito.



Apesar da fama de “perversos polimorfos”, as crianças freqüentam muito pouco os consultórios. Seus analistas preferidos são amiguinhos que encontram na rua, na escola e nos parques. Os bichos, por sua vez, à exceção de uma preguiça de Alex Gregory, só são vistos no laico confessionário de um terapeuta, boa parte deles traçada por Leo Cullum, cuja fértil imaginação já deitou num divã aves e mamíferos de pequeno e grande porte. E como quem leva ao psicanalista galinhas e elefantes é capaz de tudo, Cullum não surpreendeu ninguém ao levar um ovo, em 2006. Não um ovo qualquer, mas o Humpty Dumpty de Lewis Carroll. Que já chegou à sessão literalmente um caco.



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05/05/2009 16:55:51

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