Titubeio

Titubeio Maitê Rosa Alegretti


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Sem nenhuma pretensão de passar por cima do caráter próprio da poesia ou sugerir qualquer hierarquia tola entre os gêneros, mas ousando numa comparação singela, pode-se dizer que Titubeio é uma espécie lírica de romance de formação. Cambaleante, que não consegue se manter de pé, incerto, hesitante, vacilante, titubeante, é como o corpo do “eu” e da poesia se apresentam, ora como respiro, batimentos cardíacos, pressão arterial, oscilações oculares e outros movimentos fisiológicos; ora como plantas, cujas raízes vasculham um solo procurando firmeza, como rios que buscam o caminho para desaguar no mar. Essas duas naturezas do corpo desenham nele o próprio mapa do mundo ou da aventura que o “eu” deseja. Esse mundo seria um espaço aberto, um cosmos, o próprio céu, o mar, uma nebulosa, um buraco negro, as constelações, um deserto, a Via Láctea, um mundo enorme nas possibilidades e no desconhecido. Mesmo titubeante, o “eu” não desiste, gira, cirandeia, mas avança nesse desconhecido campo estelar de braços abertos.

A segunda parte, Observações astronômicas, é a experiência do desejo e da descoberta amorosa do outro e de si mesmo que “eu”, finalmente, vive por aqueles ansiados caminhos dos rios, das linhas do corpo e dos versos, do deserto, das notas de uma sinfonia, das fases da lua. Maitê Rosa torna possível a experiência impossível do “eu” pequeno, vacilante, irrisório num cosmos estrelado enorme e misterioso.

Depois de se atirar ao mar e vivenciar seus segredos, em “Maré baixa”, a terceira parte, a poeta nos mostra como em toda experiência, mesmo sendo ela a mais ínfima e delirada, ou mesmo sendo o sujeito o mais improvável e insignificante, o “eu” se transforma. Assim como no romance em que o herói, passado o clímax da provação, olha para si mesmo e se vê outro, o “eu” nos leva a olhar de novo o céu, a frequência da respiração, o barulho da rua, o beijo aprendido e ver o que mudou, se foi o mundo ou se foi ele mesmo.

Com a maré baixa para redescobrir o resultado da aventura, na última parte a autora nos convida para uma conversa interna. Não mais o mundo é vasculhado, mas o próprio “eu”, num balanço do passado, para descobrir quando e onde começaria o novo.

Titubeio é uma belíssima experiência de como a poesia nos permite, desde adentrar o mar e esquadrinhar as estrelas a elaborar a potência de todas as experiências que habitam dentro de nós.

Literatura Brasileira / Poemas, poesias

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