O livro é uma obra candente sobre uma característica persistente da formação social brasileira: a superexploração do trabalho da força de trabalho e a consequente desigualdade social que dilacera o país. A análise histórica e simbólica dos usos do passado escravista e o reconhecimento da metamorfose daquele passado em novas formas extremadas de exploração, reconhecidas por autoridades jurídicas através da criação da expressão "trabalho análogo ao de escravo", desemboca na construção de um aparato estatal para seu combate, a partir de 1995. A reconstituição, pela História Oral, das narrativas dos agentes de diversas instituições estatais e de militantes de movimentos sociais se alia, neste livro, aos relatos dos próprios trabalhadores sobre suas experiências como vítimas e como agentes de resistência. Tal sistematização adquire força especial na atualidade com as ofensivas patronais pela retomada dessa forma de superexploração; com a tentativa de destruição dos agentes e procedimentos de combate ao trabalho escravo contemporâneo; simultaneamente à nova opressão trazida pelas formas de precarização sancionadas pela reforma trabalhista.
José Sergio Leite Lopes
Não-ficção